Uma em cada 4 praias paulistas passa maior parte do ano sem condições de banho

Dos mais de 600 km de costa e 15 municípios, Estado tem uma média alta de praias impróprias para banhos

Quem viajar neste fim de semana para a Baixada Santista e o litoral norte encontrará apenas 22 das 166 praias monitoradas pela Companhia Ambiental de São Paulo (Cetesb) com condições impróprias para banho. Só que nesses locais a poluição é persistente, apesar da melhoria na coleta e no tratamento de esgoto. Quando se analisam os últimos dez anos, verifica-se que o problema ainda afeta uma em cada quatro praias (42 de 166) na maior parte do ano. A melhoria na balneabilidade deve passar agora pela redução das ocupações irregulares.

Dos 4 milhões de turistas esperados para este verão, 3 milhões deverão procurar as praias da Baixada Santista, que concentram a maior parte dos pontos rotineiramente impróprios para banho. A pior situação é a das praias de Santos, São Vicente e Praia Grande: esses três municípios concentram 13 das 22 praias avaliadas como impróprias para banho no dia 11, no último boletim da Cetesb. Das 25 praias monitoradas nesses três municípios, em 24 a classificação da balneabilidade variou entre “ruim” e “péssima” entre 2006 e 2016 (ou seja, tiveram mais de 50 semanas por ano impróprias para o banho).

De acordo com especialistas ouvidos pelo Estado, apesar da grande pressão do fluxo de turistas na alta temporada, os visitantes estão longe de ser o principal fator de degradação da qualidade das praias. Para eles, a origem do problema está na crescente ocupação irregular da faixa litorânea.

A promotora Flávia Maria Gonçalves, do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente da Baixada Santista, liga problema ambiental e exclusão habitacional. “O principal fator que afeta a balneabilidade é a ligação clandestina de esgotos. O esgoto não tratado vai para as redes pluviais, para os corpos d’água e, de uma maneira ou outra, termina poluindo a praia”, disse Flávia Segundo ela, o sistema de saneamento é projetado para suportar a grande pressão do turismo na alta temporada. “Mas nas áreas de invasão o esgoto vai acabar na maré.”

Exemplo

Uma pesquisa realizada pela ONG de saneamento Trata Brasil, por exemplo, mostra que a cidade de Santos é a quinta melhor em saneamento no Brasil, com 100% de coleta e 98,5% do esgoto tratado. Mas esses números levam em conta apenas as moradias regulares.

“É um bom exemplo de que não adianta equacionar o problema do lixo e do esgoto apenas nas zonas formalmente constituídas”, disse o engenheiro Alceu Galvão, que coordenou outra pesquisa do Trata Brasil, sobre saneamento em áreas irregulares. Pelo levantamento da ONG, Santos tem 51,7 mil pessoas em áreas irregulares; Guarujá, cidade vizinha, tem mais 153,7 mil. “Uma das comunidades que visitamos e estudamos foi Santa Cruz dos Navegantes, no Guarujá. As 285 residências da comunidade estão localizadas em área de mangue e não há coleta nem tratamento de esgotos. O destino mais comum dos esgotos é o lançamento direto no rio ou no mangue”, contou.

O superintendente da Sabesp na Baixada Santista, João Cesar Prado, explica que a legislação impede que a empresa instale redes de esgoto em comunidades de ocupação ilegal. “Quando chove, isso compromete a balneabilidade. A prova é que, se não chove, as pessoas continuam gerando esgoto e as praias ficam limpas.”

Litoral norte

Embora o problema da poluição das praias seja mais crítico atualmente na Baixada Santista, no litoral norte a tendência é de que fique cada vez mais grave. A região tem sistemas de saneamento menos desenvolvidos e sofre com a pressão populacional, com a contínua ocupação precária em áreas de preservação. Para evitar as praias impróprias, moradores e turistas estão buscando alternativas para tomar banho de mar e não colocar a saúde em risco. No domingo, havia 14 praias impróprias na região, incluindo Armação, Portinho e Itaguaçu (Ilhabela), Pontal da Cruz e Preta do Norte (São Sebastião) e Itaguá, Perequê Mirim, Lázaro e Itamambuca (Ubatuba). Só em Caraguatatuba todas as praias estavam em condições para o banho

A arquiteta paulistana Sônia Regina de Araújo Sales, de 41 anos, possui uma casa de veraneio em Perequê. “Além de verificar se a bandeira da Cetesb está verde, escolho lugares longe dos riachos que deságuam no mar, pois ali sempre encontro lixo e animais mortos.”

Passando férias em Ubatuba, a advogada Sara Rangel, de Taubaté, ficou surpresa com a qualidade ruim da Praia de Itamambuca, que frequenta há 15 anos. “Estão invadindo a praia inteira.”

Maresias

Um dos casos emblemáticos é a badalada Maresias, em São Sebastião. A praia do ex-campeão mundial de surfe Gabriel Medina não conta com rede coletora de esgoto. “Fatalmente o esgoto acaba sendo despejado clandestinamente no mar”, alerta André Motta Waetge, da Associação Amigos Canto do Moreira (AACM).

 
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