VICTOR LACOMBE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A capital iraniana, Teerã, está passando por um período turbulento marcado por longas filas em supermercados e postos de combustível, além de rodovias congestionadas por famílias tentando deixar a cidade, que tem sido alvo frequente de ataques com mísseis e aviões israelenses na crescente tensão entre Israel e Irã.
Como a segunda maior cidade do Oriente Médio, com 9,8 milhões de habitantes, atrás apenas do Cairo, no Egito, Teerã enfrenta um cenário de medo crescente. Além do risco constante de bombardeios, repetidos alertas para evacuação emitidos por Tel Aviv — estratégia também vista na Faixa de Gaza e classificada pelo Irã como “terrorismo psicológico” — intensificaram o pânico entre os moradores.
Desde o início do conflito, mais de 200 pessoas, muitas civis, perderam a vida em ataques israelenses ao Irã, que começaram com ofensivas contra instalações nucleares e líderes militares iranianos. Como resposta, o Irã lançou mísseis que causaram mais de duas dezenas de mortes em Israel.
Na segunda-feira (16), o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou em redes sociais que todos deveriam evacuar Teerã imediatamente — um cenário de difícil execução devido à dimensão da cidade, cujo esvaziamento completo poderia levar semanas. O espaço aéreo permanece fechado.
Nas rodovias ao redor da capital, milhares tentam chegar ao norte em direção ao Mar Cáspio ou ao noroeste rumo às montanhas do Cáucaso, buscando segurança. Contudo, muitos moradores sem veículos próprios poderão se refugiar em estações de metrô ou prédios improvisados para proteção, já que, ao contrário de Israel, a cidade não dispõe de abrigos subterrâneos públicos.
Além disso, a geografia montanhosa em volta de Teerã limita as rotas de fuga a algumas estradas principais. Conforme relatos da emissora catarense Al Jazeera, o percurso ao Mar Cáspio, que costuma levar cerca de sete a oito horas, chegou a demorar até 24 horas devido ao tráfego intenso. A área é destino frequente para famílias que fogem da capital, atraídas pela infraestrutura turística e disponibilidade de hotéis.
Na segunda-feira, após emitir uma ordem de retirada para o norte da cidade, Israel bombardeou a sede da emissora estatal de Teerã, incendiando o prédio e interrompendo uma transmissão ao vivo. Tel Aviv classificou o local como um “centro de comunicações do regime iraniano”. No entanto, segundo o direito internacional, atacar jornalistas — mesmo aqueles alinhados ao governo — configura crime de guerra.
Pouco depois, uma nova ordem de evacuação foi anunciada para uma área de classe alta da cidade, que abriga várias embaixadas estrangeiras. Locais turísticos famosos, como o Grand Bazaar, o mercado histórico de Teerã, permanecem fechados e desocupados desde o começo do conflito.
Além disso, recentes ataques israelenses atingiram o Centro de Pesquisa Nuclear e a sede do Crescente Vermelho em Teerã, a organização humanitária localizada em países de maioria muçulmana. Três socorristas perderam a vida, e a entidade condenou o ataque, qualificando-o como violação das normas internacionais.
A crise se agrava com a escassez de combustível nos postos, levando a uma corrida para estocar gasolina. Muitos estabelecimentos limitaram a venda a 10 litros por veículo, conforme reportado pelo jornal The New York Times.
Os cidadãos de Teerã também enfrentam queda na qualidade dos serviços de telefonia móvel e internet. Recentemente, o governo iraniano reduziu o acesso à rede digital para impedir que adversários possam ameaçar vidas dos moradores durante o conflito.