As análises levaram em conta a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), apesar do déficit fiscal
A agência de risco S&P Global Rating melhorou a perspectiva de nota do Brasil em um relatório divulgado nesta quarta-feira, 14. “Revisamos nossa perspectiva para o Brasil de estável para positiva e reafirmamos nossos ratings de crédito soberano BB-/B [nota que o Brasil tem desde 2020]”, diz o grupo.
De acordo com o documento, as análises levaram em conta as perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), apesar do déficit fiscal. “Nossa visão positiva baseia-se na perspectiva de que as medidas contínuas para enfrentar a rigidez econômica e fiscal podem reforçar nossa visão do quadro institucional do Brasil”, afirma a S&P.
Na semana passada, o crescimento de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre de 2023 ante o quarto trimestre do ano passado surpreendeu o mercado. Com o resultado, o país ficou em 4º lugar em termos de avanço da atividade em um ranking de 49 economias compilado pela Austin Rating.
Segundo a empresa, o crescimento continuado da economia, mais o arcabouço fiscal que se desenha, podem levar a um endividamento menor que o esperado do governo, o que poderia apoiar a flexibilidade monetária e sustentar a posição externa líquida do país.
A S&P ainda avaliou que o cenário positivo em relação ao Brasil também levou em conta a estabilidade democrática do país. “Esses desenvolvimentos reforçariam nossa visão da resiliência da estrutura institucional do Brasil, com formulação de políticas estáveis baseadas em amplos freios e contrapesos entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário”, afirma.
A agência diz, porém, que poderia revisar a perspectiva a estável, dentro de dois anos, se houver um arcabouço político inadequado ou implementação fraca, que resulte em crescimento econômico limitado, levando a mais deterioração fiscal e a um endividamento maior que o previsto.
Agro, o carro-chefe do PIB
O resultado de crescimento do PIB veio a reboque da safra recorde esperada para este ano. “A surpresa veio basicamente do crescimento maior da agropecuária em 21,6% no trimestre, puxado pela safra recorde”, diz Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter.
Opinião corroborada por Luís Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners. Nas suas contas, o agro foi responsável por 1,7 p.p. do crescimento desta base de comparação. “Esse resultado foi reflexo da safra 22/23 que cresceu 15% com relação a de 21/22 e da sazonalidade que faz com que a produção de soja e parte da de milho seja colhida no 1º trimestre.
Nessa esteira, veio também o setor de transportes, um crescimento de 1,2%, cujo resultado em boa medida veio ligado ao do agro. “Transportes, por exemplo, refletiu muito a parte de safra, por isso não surpreendeu”, diz Sinigaglia, da Garde.
Para Sinigaglia, o setor foi beneficiado por condições favoráveis no clima e nos preços de commodities em patamar elevado — além do recuo nos preços de fertilizantes após alta generalizada no ano passado.
“Isso impulsionou a safra do primeiro trimestre, que é – de fato – a mais relevante do ano [soja]. Adiante, as condições permanecem favoráveis, tanto para o milho [safrinha] quanto para o açúcar. Logo, dinamismo do PIB no ano será impulsionado pelo PIB agro”, afirma.
No entanto, para o ano que vem, o economista avalia que o agro não terá as mesmas condições favoráveis, e não deve contribuir para o crescimento do PIB como neste ano.
(Com Estadão Conteúdo)