O aumento dos juros somado à inadimplência crescente dificultou a tomada de crédito e os investimentos produtivos
Após a divulgação da retração de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre do ano passado e da desaceleração do ritmo de crescimento da economia de 5,0% em 2021 para 2,9% em 2022, o Ministério da Fazenda renovou a artilharia contra os juros altos definidos Banco Central. Em nota divulgada pela Secretaria de Política Econômica (SPE), a Pasta reafirma que a Selic em 13,75% prejudica a atividade para 2023, mas lista medidas do governo que podem ajudar o desempenho do PIB neste ano.
A SPE destaca que a economia tem mostrado “um arrefecimento significativo no ritmo de crescimento” e cita o levantamento do Projeções Broadcast para mostrar que o resultado divulgado nesta quinta-feira pelo IBGE ficou inclusive abaixo da mediana das expectativas de mercado financeiro. A nota aponta que, na comparação com o último trimestre de 2021, houve desaceleração em todos os setores da economia.
“A desaceleração acentuada do ritmo de crescimento em 2022, com retração já observada no último trimestre, repercute, sobretudo, a reduzida liquidez no ambiente externo e o ciclo contracionista da política monetária. O aumento dos juros somado à inadimplência crescente dificultou a tomada de crédito e os investimentos produtivos, levando à retração da atividade industrial e da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF)”, considerou a SPE.
Por outro lado, a Fazenda ponderou que o cenário parcialmente contrabalanceado pelo setor de serviços, que recebeu fôlego no ano passado por meio dos reajustes nos valores do Auxílio Brasil da liberação do FGTS e do crescimento da massa salarial. Além disso, o crescimento das exportações, com aumento nos preços das commodities, também colaborou positivamente com o PIB de 2022.
Crescimento modesto
Antes de divulgar a primeira grade de parâmetros macroeconômicos do novo governo para 2023, a SPE adiantou que os resultados do último trimestre de 2022 sugerem um “ritmo mais modesto” para o crescimento do PIB neste ano. O órgão destaca que o efeito de carregamento estatístico (carry over) para 2023 é de apenas 0 2%.
Ainda assim, a Fazenda mantém a expectativa de alguma recuperação da atividade na margem, devido à estimativa de safra recorde de grãos, a continuidade do bom desempenho do mercado de trabalho e medidas como a valorização real do salário mínimo e o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda de Pessoas Físicas (IRPF).
Por outro lado, a Pasta volta a pontuar que o alto patamar da Selic – mantida pelo BC em 13,75% ao ano – continuará jogando contra a atividade. “Vale citar como vetor negativo para o crescimento prospectivo a política monetária no campo significativamente contracionista. Como consequência das elevadas taxas de juros, observa-se trajetória ascendente para os spreads e para o custo de crédito, além de desaceleração acentuada nas concessões de crédito livre”, argumentou a SPE.
A Fazenda avalia ainda que o setor externo pode ser outro vetor de desaceleração do PIB em 2023, a depender do ritmo de arrefecimento da atividade global – que depende do ciclo de aperto monetário nas economias centrais, com destaque para os Estados Unidos e a Europa.