Uma nova condição genética hereditária foi identificada pela primeira vez em um estudo publicado na revista Nature Communications em 14 de junho. A síndrome DIAL é uma doença rara que dificulta o reparo do DNA, aumenta probabilidades de câncer e pode provocar reações severas à quimioterapia, segundo pesquisadores.
A descoberta da síndrome foi feita por estudiosos da Universidade de Birmingham, no Reino Unido. Esta condição prejudica o processo natural de reparação dos danos no DNA e eleva o risco de cânceres hematológicos, como linfomas e leucemias, ainda na infância.
Grant Stewart, autor principal do estudo, explica que crianças com síndromes hereditárias que comprometem o reparo do DNA, como a DIAL, apresentam graves problemas de saúde. Estes pacientes manifestam anomalias no desenvolvimento e são mais suscetíveis ao câncer. Além disso, sua sensibilidade às terapias convencionais contra o câncer, devido ao defeito presente em todas as células, agravaria seu tratamento.
Como a síndrome DIAL aumenta o risco de câncer
A síndrome DIAL está relacionada à produção defeituosa da proteína actina. A pesquisa revelou que a actina também está presente no núcleo celular, onde é vital para a leitura do DNA e conserto de danos genéticos. Uma proteína chamada DIAPH1 é responsável por organizar a actina no reparo das quebras no DNA. A ausência da DIAPH1 compromete esse reparo, causando sérias consequências à saúde, incluindo maior predisposição a tumores e redução da eficácia dos tratamentos.
A síndrome afeta principalmente o cérebro e o sistema imunológico, podendo levar a deficiências cognitivas, patologias oculares graves, atrasos no desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem, além do aumento do risco de câncer.
Efeitos da falha na reparação do DNA nos tratamentos
Pacientes com DIAL possuem sensibilidade extrema à quimioterapia e radioterapia, já que esses tratamentos causam danos ao DNA das células tumorais para impedi-las de se multiplicar. No entanto, devido à deficiência em reparar danos no DNA saudável, essas terapias também destroem células normais, elevando o risco de efeitos colaterais sérios e potencialmente fatais.
Grant Stewart ressalta que este é um grande desafio, especialmente porque a maioria dos afetados são crianças com sistemas imunológicos ainda em desenvolvimento. Portanto, identificar precocemente crianças com tais condições é crucial para evitar consequências adversas no tratamento do câncer.
Descoberta e implicações para o diagnóstico
A identificação da síndrome baseou-se em um acompanhamento clínico desde 2006, envolvendo um paciente monitorado por 19 anos. Apesar de apresentar sintomas semelhantes a outras síndromes genéticas de reparo defeituoso do DNA, sua manifestação era inédita. Em 2023, mutações no gene DIAPH1 foram confirmadas com o auxílio do professor Henry Houlden, da University College London, que encontrou casos similares.
Essas mutações prejudicam a produção da actina, especialmente em células B do sistema imunológico, aumentando a susceptibilidade a linfomas.
Perspectivas para testes genéticos
Os cientistas recomendam que a síndrome DIAL seja incluída em testes genéticos realizados em recém-nascidos, como os testes do pezinho ampliados e da bochechinha oferecidos por clínicas especializadas. Com diagnóstico precoce, será possível oferecer tratamentos personalizados que evitem terapias prejudiciais.
Henry Houlden destaca que esforços estão em andamento para garantir a inclusão da DIAL nos painéis de sequenciamento genético, permitindo diagnósticos rápidos e terapias mais eficazes para pacientes que desenvolvam câncer associado à síndrome.