CAIO SPECHOTO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou em entrevista concedida na madrugada desta quinta-feira (19) que o incremento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) é justo e que o governo não pode ceder sempre que enfrenta pressão.
A fala do presidente também protege o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem enfrentado críticas intensas do Congresso Nacional e do mercado financeiro desde o início do debate sobre o IOF.
Lula concedeu entrevista ao podcast Mano a Mano, apresentado pelo rapper e apoiador declarado, Mano Brown. Essa é a segunda participação do presidente neste programa — na primeira, em 2021, ele ainda concorria à presidência.
“O IOF proposto pelo Haddad não tem nada de errado”, garantiu o presidente. Segundo ele, o ministro quer que empresas como plataformas de apostas online (conhecidas como bets) e fintechs contribuam mais com impostos.
O governo busca aumentar a arrecadação para seguir cumprindo regras fiscais sem cortar despesas adicionais. O aumento do IOF foi decretado em maio, embora tenha sofrido um recuo parcial após forte reação contrária.
Haddad conseguiu negociar uma elevação menor no imposto, combinada com outras medidas para ampliar a arrecadação, como a eliminação da isenção de Imposto de Renda que hoje beneficia investimentos como LCA (Letra de Crédito Agrícola) e LCI (Letra de Crédito Imobiliário), além do aumento de tributos para bets, fintechs e JCP (Juros sobre Capital Próprio, um mecanismo usado por grandes companhias para remunerar acionistas e obter crédito mais barato).
Apesar disso, a Câmara aprovou com 346 votos contra 97 um requerimento para acelerar a tramitação de projeto que anula as mudanças feitas no IOF, configurando uma derrota para o governo federal.
“Estamos taxando os setores que lucram muito e pagam pouco. As bets pagam 12%, queremos que paguem 18%. Eles faturam bilhões e se recusam a pagar mais. As fintechs agem quase como bancos e também resistem. São batalhas que precisamos enfrentar. Não podemos ceder toda hora”, declarou o presidente na entrevista.
“Pretendemos fazer justiça fiscal, para que quem ganha mais pague mais, e quem ganha menos, menos”, concluiu Lula.
O presidente também falou sobre as dificuldades de governar com seu grupo político sendo minoria no Congresso.
Na mesma entrevista, Lula comparou o Brasil pós-Jair Bolsonaro à Faixa de Gaza, reiterando a ideia de que precisou reconstruir o país ao assumir o governo.
“Às vezes, reflecto sobre a destruição vista na Faixa de Gaza e lembro do Brasil que encontramos: ministérios como Trabalho, Igualdade Racial, Direitos Humanos e Cultura haviam sido eliminados. Foi uma derrubada proposital”, ressaltou o presidente.