21.5 C
Brasília
quarta-feira, 26/11/2025




Limitar venda de comida industrializada em escolas pode diminuir obesidade em jovens em 13%

Brasília
nublado
21.5 ° C
21.5 °
20.6 °
88 %
0.5kmh
100 %
qui
30 °
sex
28 °
sáb
29 °
dom
28 °
seg
21 °

Em Brasília

LAIZ MENEZES
FOLHAPRESS

Proibir a venda de alimentos muito processados e bebidas adoçadas nas cantinas de escolas públicas e privadas pode diminuir em cerca de 13% o número de jovens entre 10 e 19 anos com obesidade, conforme pesquisa do Idec (Instituto de Defesa de Consumidores), divulgada no dia 26.

Num cenário em que essas comidas e bebidas não fossem mais vendidas nas escolas de todos os tipos, o consumo de bebidas adoçadas, como refrigerantes e sucos artificiais, poderia cair 25%, e o de alimentos ultraprocessados, como doces e salgadinhos, poderia diminuir 8%. Por outro lado, o consumo de água, sucos naturais e frutas aumentaria entre 2% e 8%.

O estudo usou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, feita entre 2017 e 2018, para analisar o que os jovens comem. Caso esses produtos fossem substituídos por alimentos naturais ou pouco processados, seria possível reduzir até 20 calorias e 6 gramas de açúcar por dia, sem nenhuma perda de vitaminas ou minerais.

Para prever a redução no consumo de bebidas adoçadas, os pesquisadores basearam-se em um estudo americano chamado Rosettie (2018), que mostrou que proibir esses produtos fez cair o consumo em 26,5% entre crianças de 5 a 11 anos, 19,2% entre adolescentes de 12 a 14 anos e 14,5% entre jovens de 15 a 18 anos.

Já para os alimentos muito processados, foi usado um estudo chamado Micha (2018) que analisou restrições em escolas de vários países e encontrou uma redução média de 0,17 porções por dia, o que equivale a cerca de 5,1 gramas.

Embora o programa nacional de alimentação escolar (PNAE) ofereça alimentos às escolas públicas, ainda é comum a presença desses alimentos muito processados nas cantinas ou em pontos de venda alternativos. Recentemente, o presidente Lula sancionou uma regra que diminuiu o limite permitido desses alimentos no programa de 20% para 15%.

O pesquisador Eduardo Nilson, coordenador do estudo do Idec e afiliado ao Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares da Fiocruz e à USP, afirma que proibir esses alimentos nas escolas seria um avanço importante para prevenir a obesidade entre crianças e adolescentes.

Segundo ele, lidar com a obesidade exige várias ações ao mesmo tempo, como regras para cantinas, controle da propaganda desses produtos, impostos sobre alimentos e bebidas pouco saudáveis e rotulagem clara dos alimentos. Ele destaca que uma lei nacional sobre a venda de alimentos nas escolas seria um passo importante nessas ações.

O Brasil pode ter até 20 milhões de crianças e adolescentes obesos em dez anos, segundo o Atlas 2024 da Federação Mundial da Obesidade. A quantidade de jovens com índice de massa corporal (IMC) alto pode aumentar de 15,58 milhões em 2019 para 20,39 milhões em 2035.

Um decreto federal recente orienta estados e municípios a limitarem a venda de alimentos ultraprocessados nas escolas públicas e privadas, mas o Idec defende que essa regra se transforme em lei.

Outro estudo da Fiocruz de 2024 mostrou que cidades com leis que proibiram a venda desses produtos em escolas melhoraram a qualidade da alimentação das crianças e adolescentes, obtendo melhores resultados em um índice que mede a saúde da alimentação.

A especialista Ana Maria Maya, do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec, alerta que o consumo de alimentos ultraprocessados está ligado ao aparecimento precoce de doenças crônicas, como obesidade, diabetes, pressão alta e câncer.

Como crianças e adolescentes podem fazer até quatro refeições diárias na escola durante muitos anos, Maya explica que restringir esses alimentos transforma a escola em um local que incentiva a saúde e a educação alimentar.

Ela reforça que essa medida ajuda a melhorar a saúde nutricional das crianças, estimula hábitos alimentares saudáveis que duram a vida toda e envolve toda a comunidade escolar.

Alguns estados e cidades, como Ceará, Niterói, Rio de Janeiro, Maranhão e Rio Grande do Sul, já têm leis locais que restringem esses alimentos. Porém, Maya destaca que é necessária uma lei nacional para cobrir todas as escolas do país.

No Congresso, tramita um projeto de lei que exige que as cantinas escolares ofereçam ao menos três opções de lanches saudáveis diariamente e que proíbe a venda, propaganda e promoção de alimentos ultraprocessados, frituras e produtos com gordura hidrogenada nas escolas. O texto ainda está sendo analisado.




Veja Também