Pesquisadores realizaram técnica de varredura cerebral para descobrir como o órgão guarda a memória de trabalho
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual da Flórida e da Universidade de Nova York publicou um estudo que revela o “código secreto” que o cérebro usa para lembrar, mais especificamente para criar a “memória de trabalho”.
A memória de trabalho não está relacionada ao ato de trabalhar. Ela é aquela memória que é usada, por exemplo, quando a pessoa quer ligar para um número de telefone e rapidamente lembra da sequência de dígitos.
Por muito tempo, cientistas tentaram entender como o cérebro codifica esse tipo de memória. Uma sugere que ela depende de “armazéns” do cérebro, separados das informações sensoriais dos olhos ou nariz, por exemplo.
Outra teoria vai contra a ideia dos depósitos do cérebro e sugere que, seguindo o exemplo do telefone, as mesmas células cerebrais acendem quando você escuta o número pela primeira vez e quando ele é repetido.
O estudo, publicado na revista científica Neuron, desafia as duas teorias. Os pesquisadores afirmam que a memória de trabalho extrai apenas a informação sensorial mais relevante do ambiente, resumindo elas em um código mais simplificado.
Como foi feito o estudo?
A equipe de pesquisa usou uma técnica de varredura cerebral, conhecida como ressonância magnética funcional (fMRI), que mede as mudanças no fluxo sanguíneo para diferentes partes do cérebro.
Como as células cerebrais ativas requerem mais energia e oxigênio, o fMRI fornece uma medida indireta da atividade das células cerebrais.
Os pesquisadores, então, escanearam o cérebro de nove voluntários e dois autores do estudo enquanto eles realizavam uma tarefa que engajava a memória de trabalho.
Em um dos testes, um círculo composto de grades, ou barras, apareceu em uma tela por quatro segundos. Ele voltou cerca de 12 segundos depois e os participantes foram solicitados a lembrar o ângulo das barras.
Foi pedido que os voluntários focassem somente nas grades, então a teoria era que a atividade cerebral refletiria apenas aos atributos específicos do desenho. “Nós previmos que os participantes recodificariam o estímulo complexo em algo mais simples e relevante para a tarefa em questão”, disse um dos pesquisadores envolvidos no estudo ao site Live Science.
Eles estavam certos. Ao analisar a atividade cerebral, os pesquisadores perceberam que as células do cérebro que processam dados visuais têm um “campo receptivo” específico.
Isso significa que, em vez de codificar todos os detalhes de cada gráfico, o cérebro armazenava apenas as informações relevantes necessárias para a tarefa em questão.
A conclusão, portanto, é que a memória de trabalho atua essencialmente como uma ponte entre a percepção (quando lemos um número de telefone) e a ação (quando discamos esse número).
De acordo com a equipe de pesquisa, um novo estudo será feito para aprofundar ainda mais o conhecimento sobre a memória de trabalho. O campo de estudo precisará trazer estímulos mais ricos e que correspondam melhor ao dia a dia do ser humano, “para nos levar do laboratório para à utilidade prática”, disse um pesquisador envolvido com o estudo.