Dois meses antes de Israel lançar um ataque contra o Irã, em 25 de março de 2025, a Diretora de Inteligência Nacional dos Estados Unidos, Tulsi Gabbard, declarou à Comissão de Inteligência do Senado dos EUA que o Irã não estava envolvido na fabricação de armas atômicas.
“A Comunidade de Inteligência continua avaliando que o Irã não está produzindo uma arma nuclear, e o Líder Supremo Khamenei não autorizou o programa nuclear, que foi suspenso em 2003. Continuamos vigilantes para o caso de Teerã decidir retomar o programa nuclear”, informou a chefe da inteligência nomeada pelo presidente Donald Trump.
A posição de Tulsi contrasta com o atual posicionamento do governo Trump, que apoia a visão de Israel. O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirma que o Irã está perto de desenvolver uma bomba nuclear, algo que o Irã nega veementemente.
Questionado em 17 de outubro após o encontro do G7 no Canadá, Trump minimizou as declarações de Tulsi Gabbard e reforçou o posicionamento de Netanyahu. “Acredito que eles estavam bastante próximos de conseguir uma [bomba atômica]”, afirmou Trump.
Embora tenha negado que o Irã estivesse construindo uma bomba nuclear, a diretora de inteligência dos Estados Unidos destacou que o país persa começou a discutir publicamente a possibilidade de fabricar armas nucleares, “quebrando um tabu” sobre o tema.
“Isso pode ter fortalecido os defensores das armas nucleares dentro do governo iraniano. O estoque de urânio enriquecido do Irã está em níveis inéditos para um estado sem armas nucleares”, acrescentou Tulsi Gabbard.
O ex-inspetor de armas da ONU e ex-oficial de inteligência dos Fuzileiros Navais dos EUA, o analista Scott Ritter, comentou que Trump está ignorando os próprios órgãos de inteligência e escutando os serviços israelenses.
“Como presidente dos EUA, ele permite que a inteligência israelense assuma o comando da Diretoria de Inteligência Nacional e informe diretamente o presidente. Como americano, fico indignado que uma potência estrangeira esteja conduzindo informações cruciais para decisões de guerra”, publicou o especialista em redes sociais.
Contexto das negociações e conflito
Na época, os governos de Teerã e Washington estavam na sexta rodada de negociações, realizadas em Omã, no Oriente Médio, sobre o programa nuclear iraniano. Israel atacou o Irã alegando que o país estava próximo de desenvolver uma arma nuclear. O Irã sempre negou ter um programa para armas atômicas, afirmando que seu programa nuclear tem fins pacíficos.
No debate em Omã, discutia-se o aumento do enriquecimento de urânio para 20% para usos médicos, como tratamentos contra o câncer. Após o ataque israelense, o Irã suspendeu as negociações e acusou os EUA de conivência com Israel.
Um dia antes do ataque, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) aprovou uma resolução crítica, afirmando que o Irã não estava cumprindo obrigações e que não havia garantias de que seu programa nuclear era apenas para fins pacíficos. O Irã considerou a decisão politicamente motivada e acusou as potências ocidentais de manipulação.
Analistas consultados pela Agência Brasil sugerem que a AIEA pode estar sendo usada politicamente devido à recente mudança de postura em relação ao Irã.
Robson Valdez, professor de relações internacionais do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), afirmou que a AIEA já foi instrumentalizada historicamente para justificar ataques a países e ressaltou a importância de considerar o contexto atual da guerra na Faixa de Gaza.
“É perceptível que o primeiro-ministro Netanyahu tem o objetivo deliberado de envolver os Estados Unidos diretamente na guerra do Oriente Médio”, concluiu.
Informações fornecidas pela Agência Brasil.