A previsão inicial era de relaxamento das regras a partir de 11 de maio, o que não deve mais acontecer
Há vinte dias, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou que nesta sexta-feira, 8, seriam divulgados os detalhes do “Plano São Paulo”, o projeto de reabertura gradual da maior economia do Brasil, hoje restrita pela pandemia do novo coronavírus. A previsão do governo era a de iniciar um processo de retomada das atividades a partir da próxima segunda-feira, 11, estabelecendo uma reabertura em fases, direcionada pela saúde e pela ciência.
Na ocasião, o secretário de Saúde, José Henrique Germann, afirmou que qualquer medida de relaxamento do isolamento teria como condicionante a capacidade de atendimento dos sistemas de saúde dos 645 municípios do estado. A situação epidemiológica da covid-19 também deveria estar contida, com a curva de novos casos já “achatadas” e em tendência de queda.
Mas a realidade das últimas semana mostra que o cenário atual está longe do projetado pelo governo. Desde o anúncio do plano, em 22 de abril, os casos confirmados da doença mais que dobraram, saindo de 15.901 para 39.928. Já as mortes quase triplicaram, saltando de 1.134 para 3.206 no mesmo período.
A taxa de ocupação dos leitos de UTI do estado é outra variável que preocupa. Nesta quinta-feira, 7, a capacidade de atendimento no Sistema Único de Saúde era de 66,9% no interior e 89,6% na grande São Paulo.
Na capital paulista, a situação é a mais crítica. A cidade registra há mais de uma semana níveis médios de isolamento de 47% — bem abaixo dos 55% necessários para diminuir a propagação da doença. Ontem, o prefeito Bruno Covas (PSDB) endureceu as regras de rodízio para evitar ter que decretar lockdown e disse que nesta sexta-feira, 8, vai divulgar as novas medidas de quarentena.
O avanço do novo coronavírus para cidades do interior também é grave. Segundo levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Regional, atualmente a cada três dias, 38 novas cidades do interior paulista têm casos da doença pela primeira vez. Já são 371 municípios com ao menos um registro da doença. No interior, a taxa de isolamento também não tem passado de 47% durante a semana.
Diante dessa situação, fica a pergunta: Doria, defensor diário das medidas de isolamento social como única arma disponível contra a covid-19, tomará alguma decisão para relaxar as medidas de distanciamento? É improvável.
O próprio Centro de Contingência do Coronavírus, do governo de São Paulo, divulgou ontem um estudo projetando que o estado terá 40 mil mortes nos próximos dois meses caso a taxa de isolamento social se mantiver em 50%.