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sexta-feira, 12/12/2025

DF tem a maior renda média do país, mas também a maior desigualdade social, diz IBGE

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O Distrito Federal está no topo em dois aspectos econômicos importantes: tem a maior renda média do país, que é de R$ 4.889, mas também enfrenta a maior desigualdade social na região Centro-Oeste, conforme revela o Índice de Gini, que chegou a 0,547. Esse índice mostra que a distribuição de renda é muito desigual, com uma grande parte da população vivendo em condições muito diferentes dentro do mesmo território.

O Índice de Gini varia de zero a um, e quanto mais próximo de um, maior é a desigualdade. No Distrito Federal, isso reflete a convivência de áreas muito ricas, especialmente na região central, com outras regiões onde a população enfrenta dificuldades, menor oferta de serviços públicos e acesso limitado a oportunidades.

Apesar dos bons indicadores do DF, como a menor taxa de analfabetismo do Brasil, que é 1,8%, e a queda no desemprego para 9,7% em 2024, a capital permanece como a unidade da federação mais desigual. Cerca de 15,3% da população vive com renda abaixo da linha da pobreza, número que não mudou em relação ao ano anterior, embora seja o menor desde 2012. Mesmo com redução da pobreza, a diferença entre ricos e pobres continua alta.

O mercado de trabalho mostra essas desigualdades: em 2024, entre 2,44 milhões de pessoas em idade para trabalhar, 1,47 milhão estavam empregadas e 158 mil desempregadas. A taxa de emprego foi de 60,3%, mas quase 20% da força de trabalho estava subutilizada, ou seja, gostaria de trabalhar mais ou está em empregos precários.

Entre os jovens de 14 a 29 anos, o desemprego é ainda maior, alcançando 17,2%. Há grandes diferenças também entre raças e gêneros: a taxa de desemprego para pretos e pardos foi de 10,7%, enquanto para brancos foi 7,8%. Para mulheres, a taxa chegou a 12%, contra 7,8% para homens.

Mesmo com 79,2% da população ocupada tendo pelo menos o ensino médio completo, o avanço educacional não se traduziu em menos desigualdade. Apenas 67,4% dos trabalhadores tinham emprego formal.

A desigualdade salarial é marcante: homens brancos ganham em média R$ 7.757 por mês, valor 2,4 vezes maior que o das mulheres pretas ou pardas, que é R$ 3.170 em média. Trabalhadores com ensino superior completo ganham por hora quase quatro vezes o que recebem trabalhadores sem instrução ou com ensino fundamental incompleto.

A diferença entre os rendimentos dos mais ricos e dos mais pobres é bastante alta: os 10% com maiores salários ganham em média 15,2 vezes mais que os 40% com menores rendimentos. O sociólogo Nauê Bernardo Azevedo, do Ibmec Brasília, explica que os altos salários em uma parcela da população elevam a média geral, mas não representam a realidade da maioria.

Nauê Bernardo Azevedo destaca que a concentração de renda no topo da pirâmide e a fragilidade econômica da base mantêm os altos níveis de desigualdade. Ele compara o Distrito Federal a um espelho do Brasil, onde extremos de renda e acesso coexistem no mesmo espaço.

Essa desigualdade tem raízes históricas, segundo o sociólogo. O Distrito Federal foi criado para abrigar o poder político federal e seus servidores, o que apagou as populações mais vulneráveis. Programas sociais ajudam a conter os efeitos, mas não atacam as causas profundas da desigualdade, que continuaria ainda maior sem eles.

A desigualdade racial está entre os principais problemas do DF. Entre os 10% mais pobres, 71,6% são pretos ou pardos, enquanto entre os 10% mais ricos, 66% são brancos. O professor Marcos Sarmento, de mercado financeiro do Ibmec Brasília, afirma que essa realidade mostra um problema estrutural, pois a educação de qualidade historicamente beneficiou uma camada específica da população, refletida também nos concursos públicos.

Marcos Sarmento lembra que a formação urbana de Brasília reforçou essas desigualdades, com maior valorização imobiliária no Plano Piloto, afastando quem não podia pagar para morar lá. Apesar dos avanços na educação, o professor acredita que a desigualdade vai persistir por gerações, exigindo investimento contínuo em áreas como educação, saúde, moradia e transporte.

Os dados do IBGE mostram que o maior desafio do Distrito Federal não é gerar riqueza, mas distribui-la de maneira mais justa, para garantir desenvolvimento social e qualidade de vida para toda a população.

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