JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Especialistas financeiros apontam que o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) deve manter a taxa Selic em um nível elevado durante o próximo ano, favorecendo os investimentos em renda fixa. Nesta quarta-feira (18), o Banco Central elevou a taxa básica de juros para 15% ao ano.
Além dos títulos pós-fixados que acompanham a Selic, também existem boas oportunidades em títulos prefixados e híbridos.
“Não esperamos cortes nos juros em curto prazo, visto que as previsões para a inflação permanecem elevadas e acima da meta estabelecida”, comenta Rafael Haddad, planejador financeiro do C6 Bank.
Mesmo em desaceleração, a inflação prevista ainda está acima da meta de 3% definida pelo Banco Central. A última pesquisa Focus indica previsão de IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 5,25% para este ano e 4,50% para o próximo.
Os conflitos no Oriente Médio podem elevar preços, principalmente do petróleo, e causar pressão no dólar.
Neste contexto, investimentos atrelados à Selic ou CDI e os híbridos, que misturam juros prefixados com a variação do IPCA, são os mais indicados.
Filipe Arend, diretor de renda fixa da Faz Capital, reforça a necessidade de cautela: “O consenso é que a Selic permanecerá alta por um período prolongado”.
Os títulos do Tesouro Direto e CDBs (Certificados de Depósito Bancário) com rentabilidade superior a 100% do CDI são apontados como bons investimentos.
Jacinto Santos, analista da CM Capital, destaca: “São dois ativos seguros e com bom retorno”.
A projeção do C6 Bank indica que o CDI a 100% oferece uma rentabilidade real (descontada a inflação) de 9,7% ao ano.
Carlos Castro, planejador financeiro e CEO da SuperRico, afirma: “O rendimento nominal atual ultrapassa 1% ao mês, antes dos impostos e da inflação”.
Após considerar o Imposto de Renda, títulos isentos como LCA e LCI que rendam acima de 91,6% do CDI apresentam retorno líquido real de 8,36% ao ano.
Títulos híbridos ligados ao IPCA oferecem retornos menores, devido à queda nas taxas prefixadas que os acompanham. No Tesouro Direto, o título com vencimento em 2029 rende 7,59% acima do IPCA, e o de 2040, 6,99%.
Haddad comenta: “Ativos atrelados ao CDI apresentam os maiores retornos atuais, pois as taxas prefixadas já refletem a expectativa de redução dos juros”.
O título prefixado para 2028 oferece um retorno anual de 13,58%, e o para 2032, 13,81%, na plataforma do Tesouro.
Paulo Henrique Oliveira, analista da Daycoval Corretora, recomenda comprar prefixados apenas acima de 14,50%, embora sejam raros. Para híbridos, considera adequado uma taxa adicional de 6%.
Ele orienta a “travar a taxa alta no portfólio”, destacando que títulos do Tesouro no mercado secundário, com vencimento em dois anos, pagam quase 14% ao ano — o que faz o capital dobrar em cinco anos.
Quanto mais longo o objetivo do investidor, maior a adequação para prefixados na carteira.
Mauro Orefice, gestor da B.Side Investimentos, sugere prefixados com vencimentos até três anos para garantir rentabilidade fixa em patamar elevando, prevendo que a próxima etapa será a redução dos juros.
Em relação aos títulos atrelados ao IPCA, indica prazos entre dois e cinco anos.
Arend esclarece que, no médio e longo prazo, os títulos ligados ao IPCA apresentam melhor relação risco-retorno, protegendo contra inflação alta e oferecendo ganho potencial caso os juros caiam.
Especialistas reforçam que o mais importante é respeitar o perfil de risco e diversificar os investimentos.
Carlos Castro destaca: “A estratégia deve ser personalizada conforme o perfil do investidor e o prazo do investimento, para que a carteira resista a qualquer ciclo econômico”.
Por outro lado, a poupança ainda não é vantajosa. Segundo Haddad, a previsão é de rendimento de 8,24% para os próximos 12 meses, quase a metade da Selic.
Ao contrário de outros produtos de renda fixa, a poupança só altera sua rentabilidade se a Selic ficar abaixo de 8,5%. Atualmente, por lei, ela rende 6,17% + TR ao ano.
Considerando a inflação, a poupança tem ganho real líquido estimado de 3,36%, sendo isenta de IR. Portanto, não há perda monetária, mas existem produtos mais rentáveis e seguros, como o Tesouro Selic, que rende Selic + 0,05% ao ano.