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sábado, 21/06/2025




Brasil evita viagem à Argentina por preços altos

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DOUGLAS GAVRAS
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) — “Não tenho com quem falar em português”, reclama o garçom argentino Alexis Franco, 33, em um restaurante na rua Florida, um local que costumava ser muito movimentado no centro de Buenos Aires. “Antes, os brasileiros vinham em grupo, agora só poderei viajar ao Brasil nas minhas férias.”

O irmão dele, que trabalhava como “arbolito”, levando câmbio paralelo, teve que trocar de atividade e agora faz entregas por aplicativo, devido à falta de turistas para trocar dólares.

“Parece que sempre estamos em uma gangorra, Argentina e Brasil, espero que nenhum dos dois caia”, comenta.

A redução no número de visitantes na Argentina é real. Nos primeiros quatro meses de 2025, o país recebeu 3,3 milhões de turistas, uma queda de 25,4% comparado ao ano anterior. Por outro lado, as viagens dos argentinos para o exterior cresceram 67,6%, chegando a 8,4 milhões, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec).

Somente em abril, a Argentina teve um saldo negativo no turismo internacional: recebeu 699,3 mil visitantes, uma queda de 8,3% sobre o mesmo mês de 2024, enquanto 1,43 milhão de argentinos viajaram ao exterior, aumento de 30,5%.

Em abril, 77,6 mil brasileiros visitaram o país, 18,2% menos que no ano anterior, enquanto 235,9 mil argentinos aproveitaram os preços mais baixos no Brasil, que cresceram 59,1%. Os brasileiros agora estão atrás dos uruguaios na lista dos principais visitantes.

“No verão, comerciantes de cidades litorâneas como Mar del Plata tentaram oferecer pacotes a preço de custo para manter os turistas, sem sucesso”, relata o agente de viagens Luciano Scharowski, 43 anos. “Não conseguimos competir com os preços do Brasil. Hotéis e restaurantes em Bariloche estão apreensivos para o inverno.”

No início do mês, o Indec anunciou que a inflação da Argentina em maio foi de 1,5%, o menor índice em cinco anos. O aumento de preços desacelerou, porém permaneceu alto em dólares.

Um estudo feito pelos pesquisadores Marcelo Capello e Nicolás Cámpoli, da Fundação Mediterrânea – Ieral, indicou que em uma cesta de 30 produtos, que inclui alimentos, serviços e bens duráveis, 90% dos preços na Argentina eram mais altos do que no Brasil, quando comparados em dólares internacionais.

No setor alimentício, o Brasil tem preços mais baixos para todos os produtos analisados. A Argentina é mais cara em 48% dos itens comparados a outros dez países.

Para bens duráveis, vestuário e calçados, a Argentina é mais cara em 91% dos casos estudados, enquanto no Brasil, apenas uma geladeira de 340 litros custava mais que na Argentina.

Em serviços pessoais ou familiares, a Argentina tem preços mais elevados em 36% dos casos, sendo 80% mais caros do que os praticados no Brasil.

A comparação de preços foi feita principalmente com base no banco de dados da plataforma Numbeo, que reúne informações de usuários e pesquisas em supermercados, empresas de táxi e órgãos oficiais. Os preços considerados são de 15 de maio deste ano.

Outra referência usual é o índice Big Mac, que aponta que o valor do sanduíche na Argentina é de US$ 7, superado apenas pela Suíça (US$ 8).

Em abril, o governo argentino flexibilizou as restrições para compra de dólares por pessoas físicas e adotou um sistema de bandas cambiais, com a moeda oscilando entre 1.000 e 1.400 pesos argentinos. Em 18 de junho, o dólar era vendido a 1.180 pesos.

Embora o controle da inflação seja visto como um triunfo pelo governo de Javier Milei, o país ainda enfrenta desafios para atrair dólares, devido à escassez crônica de reservas no banco central.

“Hoje, a taxa de câmbio da Argentina está baixa, algo que pode se manter graças ao aumento das exportações de energia e mineração. A maior entrada de dólares e a expectativa de equilíbrio fiscal podem valorizar a moeda local”, afirmam os pesquisadores no estudo.

Eles indicam ainda que a taxa de câmbio real da Argentina em maio de 2025 está 30% abaixo da média dos últimos 25 anos, o que não necessariamente sinaliza instabilidade futura, dado que as exportações de petróleo e gás podem sustentar essa paridade baixa.




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