A primeira turma de refugiados climáticos que saiu de Tuvalu, uma remota nação insular do Pacífico enfrentando o afundamento, chegou à Austrália, conforme informações das autoridades locais na quinta-feira, 11 de dezembro.
Aproximadamente um terço da população de 11 mil habitantes de Tuvalu solicitou visto climático para migrar à Austrália, segundo um acordo firmado entre os países há dois anos, com mais de 80% demonstrando interesse. O número de vistos concedidos é limitado a 280 por ano para evitar a fuga de pessoas qualificadas da pequena nação insular.
Tuvalu, composto por atóis baixos localizados entre a Austrália e o Havaí no Pacífico, é um dos países mais ameaçados pelo desaparecimento devido à elevação do nível do mar.
Em 2021, chamou a atenção global uma mensagem do então ministro da Justiça, Comunicação e Relações Exteriores de Tuvalu, Simon Kofe, durante a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26). Ele apareceu vestido formalmente, em água na altura dos joelhos, posicionando-se atrás de um púlpito no mar, pedindo ações imediatas para combater as mudanças climáticas.
Após isso, a Austrália instituiu uma rota migratória conhecida como o primeiro “visto climático”, que proporciona uma rede segura para migração antes que a emergência climática os force a fugir. Este visto oferece residência permanente aos tuvaluanos.
Preservando conexões culturais
Manipua Puafolau, migrante climático de Tuvalu, chegou à Austrália recentemente. Ele é pastor em formação na igreja mais importante do arquipélago e planeja morar em Naracoorte, pequena cidade na Austrália do Sul, onde muitos ilhéus do Pacífico trabalham em empregos sazonais na agricultura e processamento de carnes.
“A mudança para a Austrália não é só sobre o bem-estar físico e econômico, mas também sobre suporte espiritual”, afirmou Manipua em vídeo divulgado pelo departamento australiano de relações exteriores.
O primeiro-ministro de Tuvalu, Feleti Teo, visitou a comunidade tuvaluana em Melton, Melbourne, no mês anterior, reforçando a importância de manter fortes laços culturais enquanto os cidadãos migram.
Ameaça da elevação do nível do mar
No atol principal de Funafuti, residência de 60% da população de Tuvalu, faixas de terra têm até 20 metros de largura em certos pontos. As famílias vivem em casas simples, e crianças jogam futebol na pista do aeroporto devido à falta de espaço.
Pesquisadores da NASA estimam que as marés diárias vão inundar metade do atol de Funafuti até 2050, caso o nível do mar suba um metro. No cenário mais grave, 90% do atol estaria submerso em 25 anos.
Vistos climáticos proporcionam dignidade e oportunidades
A ministra das Relações Exteriores da Austrália, Penny Wong, afirmou que os migrantes climáticos trarão contribuições para a sociedade australiana.
O visto oferece “mobilidade com dignidade”, permitindo que os tuvaluanos vivam, estudem e trabalhem na Austrália enquanto enfrentam os impactos climáticos, disse Penny Wong em comunicado à Reuters.
A Austrália está organizando serviços de apoio para ajudar as famílias a se estabelecerem nas cidades da costa leste. Kitai Haulapi, motorista de empilhadeira em Tuvalu, planeja se mudar para Melbourne e espera conseguir emprego para enviar apoio financeiro à família que ficou em Tuvalu.
A dentista Masina Matolu, com três filhos em idade escolar e um marido marinheiro, vai para Darwin, no norte da Austrália, onde pretende trabalhar com comunidades indígenas.
“Sempre poderei levar o que aprender aqui de volta para ajudar minha cultura”, declarou Masina.

