Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, Thiago Ávila, ativista pró-Palestina de 38 anos, relatou as dificuldades enfrentadas durante a viagem de barco até a Faixa de Gaza e a detenção por parte do governo de Israel. O brasiliense retornou à capital federal na quarta-feira (19/6) após ser deportado do Oriente Médio.
Thiago Ávila esteve a bordo do barco Madleen desde o dia 1º de junho, acompanhado por outros 11 ativistas internacionais, com destino a Gaza. Poucos dias após a partida, o grupo foi capturado pelo exército israelense e detido em prisão. Eles chegaram a ficar isolados em uma cela antes de serem devolvidos aos seus países de origem.
O objetivo da missão era abrir um corredor humanitário para levar alimentos e remédios aos palestinos que convivem sob controle de grupos armados do Hamas. Apesar da baixa probabilidade de conseguirem entrar em Gaza sem serem interceptados pelo exército israelense, os ativistas persistiram em sua causa.
“Em 17 anos da Flotilha da Liberdade, apenas as cinco primeiras embarcações conseguiram chegar a Gaza, enquanto mais de 36 foram barradas em outras tentativas. Sabíamos das dificuldades, mas fizemos o que estava ao nosso alcance para tentar chegar.”
Recusa em assinar confissão
Segundo o governo israelense, Thiago recusou assinar uma carta de deportação, que implicaria admitir a entrada ilegal em território israelense e uma proibição de 100 anos de retorno. O ativista negou ter cometido o crime e por isso não assinou o documento.
“Não podia assumir um crime que não cometi. Por isso fui visto como intransigente, mas não faria sentido assinar algo falso.”
Relato das agressões
Embora inicialmente tenha minimizado as agressões sofridas para não comparar com o sofrimento dos palestinos, Thiago publicou um vídeo nas redes sociais mostrando lesões visíveis no abdômen, braços e pernas causadas durante a detenção.
O ativista não entrou em detalhes sobre o tempo em que ficou isolado sozinho na prisão, mas afirmou que não temeu pela vida. Ele destacou que, ao longo de 20 anos de ativismo, aprendeu a lidar com os riscos e sabia que muitos que lutam por mudanças enfrentam prisões e agressões.
“O medo do futuro do mundo da minha filha, que tem apenas 7 meses, é muito maior do que qualquer ameaça pessoal que eu possa enfrentar.”
Convívio com Greta Thunberg
Thiago Ávila passou vários dias no barco com a ativista sueca Greta Thunberg, a quem descreveu como uma pessoa humilde, empática e sempre otimista. Ele foi responsável por orientar Greta sobre como agir em caso de agressão, embora ela tenha preferido não aceitar ajuda para não colocar sua vida em risco.
Retorno e recepção no Brasil
A chegada de Thiago ao Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek foi marcada por um protesto organizado por grupos pró-Palestina que manifestaram apoio ao ativista e criticaram o bloqueio israelense à região.
“Voltar para casa foi muito bom, mas voltei também diagnosticado com sarna da prisão e do isolamento, então não posso ter muito contato físico com a família nesse momento.”
Antes, no dia 13 de junho, Thiago já havia chegado ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, sendo recebido por militantes que demonstraram solidariedade à causa palestina.
Quem é Thiago Ávila
O brasiliense é um dos membros da Coalizão Flotilha da Liberdade, grupo que busca levar ajuda humanitária à Palestina. Ele iniciou seu ativismo em 2005 e já esteve no Líbano, mostrando as consequências de conflitos na região.
Ávila utiliza as redes sociais para compartilhar relatos sobre seus projetos e expor as realidades das zonas de guerra. Em 2024, participou de eventos internacionais, incluindo conferências no Irã e velórios de líderes políticos do Oriente Médio.
Apesar dos desafios enfrentados, incluindo deixar a esposa e a filha pequena para trás, ele mantém o compromisso de levar assistência e lutar pela transformação social.