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sábado, 28/06/2025




Veterano condecorado é pressionado a deixar EUA após viver décadas no país

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TATIANA CAVALCANTI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Sae Joon Park, veterano do Exército dos Estados Unidos, chegou ao país ainda criança vindo da Coreia do Sul. Alistou-se após concluir o ensino médio, participou da invasão do Panamá em 1989 e recebeu condecorações por ferimentos sofridos em combate. Depois de quase cinco décadas vivendo nos EUA com um green card, ele foi pressionado pelo governo a escolher entre voltar voluntariamente à Coreia do Sul ou enfrentar a deportação — mesmo tendo lutado pelo país.

Park decidiu deixar para trás a família e os amigos com quem convive há anos para retornar a um país onde quase não conhece ninguém. “Não acredito que isso esteja acontecendo nos EUA”, declarou ele, 55 anos, residente permanente legal, em entrevista à NPR antes de deixar o Havaí na segunda-feira (23). “É inacreditável, é o país pelo qual lutei.”

Durante seu serviço militar, Park ajudou a derrubar o regime de Manuel Noriega no Panamá. Após a experiência militar, desenvolveu transtorno de estresse pós-traumático e acabou se tornando dependente de crack. Em 2009, foi preso em Nova York por tentar adquirir a droga e passou alguns anos na prisão.

Ao faltar na audiência para evitar falhar no teste antidrogas, perdeu a chance de transformar o green card em cidadania, benefício dado a veteranos que servem com honra, e recebeu uma ordem de remoção.

Segundo o jornal The Guardian, um juiz determinou sua deportação, mas permitiu que ele permanecesse no país desde que se apresentasse anualmente ao ICE (Serviço de Imigração e Alfândega). Esse acordo, usado para casos em que a deportação não é prioridade, fez com que Park se estabelecesse no Havaí, onde criou seus dois filhos.

Em junho, agentes do ICE informaram que, sob orientação do governo de Donald Trump, ele seria detido e deportado caso não saísse voluntariamente nas semanas seguintes. Park escolheu se despedir dos amigos, dos filhos e da mãe octogenária, que demonstra os primeiros sinais de demência.

Park relatou que, ao se preparar para embarcar em Honolulu, percebeu que talvez jamais voltasse a ver seus familiares. “Ela não entende direito o que está acontecendo”, comentou sobre sua mãe. “Não estarei presente para um funeral ou para o casamento da minha filha.”

Seu caso chamou atenção no contexto das políticas migratórias de Trump, que endureceram o controle sobre imigrantes com green card, incluindo veteranos militares.

Defensores iniciaram um abaixo-assinado online para tentar reverter a situação migratória de Park, já com quase mil assinaturas. A petição aponta que ele foi obrigado a autodeportar-se para evitar detenção, pois a ordem de remoção impedia sua permanência legal nos EUA. Também destaca que a dependência química decorreu do trauma do serviço militar.

A iniciativa pede que o processo criminal seja reavaliado e que as condenações que impedem a anulação da deportação sejam canceladas, abrindo caminho para seu retorno ao país que ele considera lar e que jurou defender como militar.

De acordo com The Guardian, a subsecretária de Segurança Interna, Tricia McLaughlin, afirmou que o histórico de Park inclui acusações por porte e venda de arma, agressão e posse de substâncias controladas, indicando que a ordem prévia de deportação eliminava qualquer base legal para sua permanência nos EUA.

Park descreveu o tratamento do ICE como extremamente injusto. Em mensagem no Facebook, agradeceu o apoio recebido nas últimas semanas e lamentou ter sido forçado a deixar o país que considera seu lar. “É muito triste ter sido removido de casa.”

Ele narrou que chegou aos EUA sozinho, aos 7 anos, com um adesivo de identificação no peito, e jamais imaginou que, quase 50 anos depois, partiria novamente sozinho. Park afirma ter vivido uma trajetória marcada por boas lembranças e espera retornar um dia para reencontrar seus entes queridos.




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