Pesquisa recente indica que a cera do ouvido pode ser usada para detectar sinais iniciais da doença de Parkinson, conforme estudo divulgado na revista Analytical Chemistry em maio. Cientistas chineses da Universidade de Zhejiang observaram que certos compostos químicos na cera auditiva são diferentes em pacientes com Parkinson comparados a pessoas sem a doença.
Essa descoberta pode levar ao desenvolvimento de um exame diagnóstico mais simples, acessível e realizado em estágios iniciais, o que melhora significativamente a vida dos pacientes, pois o tratamento tende a ser mais eficaz quanto mais cedo a condição é identificada.
Entendendo o Parkinson
O Parkinson é uma doença neurológica crônica e progressiva, causada pela degeneração das células cerebrais. Aproximadamente 10 milhões de pessoas no mundo vivem com essa condição, que é mais frequente em idosos acima de 65 anos, mas pode surgir em qualquer idade.
A doença afeta principalmente os movimentos, causando lentidão, rigidez e tremores. Além disso, sintomas como perda do olfato, distúrbios do sono, alterações emocionais, problemas urinários, dores e fadiga são comuns. Cerca de 30% dos pacientes desenvolvem demência associada.
Sinais no canal auditivo
Inspirados por pesquisas que apontam para mudanças no cheiro corporal de pessoas com Parkinson devido à alteração na produção de sebo — a oleosidade natural da pele — os pesquisadores focaram na cera de ouvido. Essa cera é uma substância protegida e estável, ideal para análise precisa, ao contrário do sebo exposto ao ambiente.
Foram examinadas amostras de 209 participantes, incluindo 108 com Parkinson. Quatro compostos orgânicos voláteis se destacaram nos pacientes: etilbenzeno, 4-etiltolueno, pentanal e 2-pentadecil-1,3-dioxolano. Esses elementos estão relacionados a processos que envolvem inflamação, estresse celular e morte neuronal.
Uso da inteligência artificial
Com esses dados, foi desenvolvido um sistema de inteligência artificial, chamado sistema olfativo de IA (AIO), que identificou corretamente os casos de Parkinson em 94,4% das vezes, um resultado animador, embora ainda preliminar.
A próxima fase envolve ampliar os testes para grupos maiores e mais diversos, incluindo diferentes estágios da doença. Se confirmados, exames simples usando cotonete no ouvido poderão se tornar rotina para diagnóstico precoce, permitindo iniciar o tratamento rapidamente.
Hao Dong, bioquímico da Universidade de Aeronáutica e Astronáutica de Nanquim, ressalta a importância de validar o método em centros variados e populações distintas.
Além disso, os compostos encontrados funcionam como uma espécie de assinatura química do Parkinson, auxiliando na compreensão do início e progressão da doença e contribuindo para avanços futuros na prevenção e tratamento.