Avesso aos holofotes, Rivaldo saiu de cena sem alarde. O anúncio da aposentadoria foi discreto, a exemplo dos últimos passos da sua carreira. Se no auge ele desfilou um futebol de alto nível para milhares de fãs e colecionou títulos com Palmeiras, Barcelona e Seleção, o glamour passou longe na reta final da trajetória profissional: baixos públicos, estádios acanhados, dores no joelho, atuações discretas. Aos 41 anos, Rivaldo se sacrificou para ajudar o Mogi Mirim e também para realizar os últimos desejos no futebol: atuar ao lado do filho e chegar à marca de 900 jogos.
O pentacampeão começou a temporada disposto a disputar o Paulistão. A renovação de contrato com o Sapo até novembro de 2015 reforçava a intenção do craque. Mas antes era preciso superar um problema físico. Rivaldo convive desde a temporada passada, quando teve passagem apagada pelo São Caetano, com uma lesão crônica no joelho direito, chamada de sinovite (conhecida popularmente como água no joelho), que limita os movimentos e se agrava com o esforço. Com tratamento intensivo, ele passou a treinar com o elenco na reta final da preparação para o estadual, mas, reservado, preferia não criar expectativa sobre seu aproveitamento.
A estreia no Paulistão aconteceu de maneira surpreendente já na segunda rodada. A escalação de Rivaldo contra o São Paulo, no Morumbi, foi mantida sob sigilo até a divulgação da lista oficial. Com a camisa 10, foi titular na derrota por 4 a 0. Na oportunidade, justificou a presença como uma maneira de blindar o filho Rivaldinho, então cotado para iniciar a partida, da pressão de debutar profissionalmente em uma partida complicada. Começavam ali os momentos em família dos dois, que se concentraram juntos pela primeira vez.
Rivaldo poupou a cria, mas sobrecarregou o joelho. O tempo que ficou em campo, aproximadamente 65 minutos, foi suficiente para agravar o problema. Um exame constatou a laceração do menisco medial. Chegou-se a cogitar cirurgia, mas, a essa altura, isso significaria pendurar as chuteiras, o que, naquele momento, não fazia parte dos planos de Rivaldo. Ainda faltava algo. Faltava atuar ao lado do filho Rivaldinho. Por isso, optou pela recuperação convencional e ficou sem condições de jogo por quase um mês.
Durante o período afastado, viu o filho estrear profissionalmente com um gol na derrota do Mogi Mirim por 2 a 1 para o Penapolense. O jovem atacante também deixou sua marca na derrota por 3 a 1 para o Botafogo antes de o pai voltar. E o retorno colocou os dois lado a lado. Foi no empate por 1 a 1 com o XV de Piracicaba, pela nona rodada, em 18 de fevereiro, que Rivaldo, de 41 anos, deixou o banco no segundo tempo para fazer companhia a Rivaldinho, de 18, por pouco mais de 35 minutos. Foram raras as participações em conjunto da dupla. O primeiro passe aconteceu aos 44, quando Rivaldinho procurou o pai em um contra-ataque.
Ao todo, foram 22 anos como jogador profissional. Revelado nas categorias de base do Santa Cruz, ganhou projeção no Mogi Mirim, onde fez parte do “Carrossel Caipira” no início da década de 90. Depois, defendeu Corinthians e Palmeiras. No Verdão, foi bicampeão brasileiro em 1993-94 com Edmundo, Evair, Zinho, Roberto Carlos e outros craques. Em 1996, com Djalminha, Muller, Luizão e outros, fez parte do time do ataque dos 102 gols treinado por Vanderlei Luxemburgo e campeão paulista.
Depois, foi para o futebol europeu. O La Coruña abriu as portas da Espanha para Rivaldo, mas foi no Barcelona, entre 1998 e 2002, que ele atingiu o auge. Durante esse período, foi eleito o melhor do mundo e, depois do vice mundial na França com a Seleção, conquistou o pentacampeonato no Japão e na Coreia. Depois, defendeu Milan e Cruzeiro, passou pelo futebol grego e asiático e vestiu a camisa do São Paulo, em 2011, já sem tanto destaque. O mesmo aconteceu quando defendeu o São Caetano. Na reta final, pouco público e luta contra as lesões, mas nada que apagasse o brilho da trajetória.