Cada criança tem uma identidade e um ritmo; projetar nos filhos nossa própria ansiedade causa problemas no desenvolvimento
“Nessa idade eu ainda brincava de carrinho”. Ou de boneca, pião, amarelinha… Quantas vezes a gente já ouviu essa frase vinda de adultos de boca aberta e olhos arregalados ao observar crianças pequenas jogando videogame, repetindo palavras em inglês ou fazendo dancinhas em rede social.
É natural que haja uma mudança de comportamento de geração para geração. Mas até que ponto esse desenvolvimento mais rápido de nossos filhos apenas acompanha a evolução do mundo e da tecnologia? E quando passa a ser um reflexo de nossa própria ansiedade ao superestimulá-los na tentativa de prepará-los para o ambiente competitivo que os espera?
Que fique claro que não há nada de errado em estimular as crianças na medida certa. Desde bebês, elas são curiosas e tendem a se envolver de forma natural e espontânea com situações que resultam em seu desenvolvimento como um todo. Erguer a cabeça, rolar para o lado, jogar um objeto no chão e manusear os alimentos pela primeira vez, fazendo aquela sujeira toda, são adoráveis descobertas para comemorar e anotar na “listinha de conquistas”.
Mas exagerar no estímulo, trazendo para o berço o ambiente de hiperinformação que tanto nos sufoca como adultos, causa desordem. O excesso de luzes, movimentos, sinais sonoros e até mesmo o uso de smartphones e tablets pode gerar comportamento agitado, dificuldade de concentração e de aprendizagem, causados pela hiperestimulação.
Então que tal deixar o bebê ser bebê, a criança ser criança? Esse tempo não tem volta. Deixe que os desafios surjam como um convite para o aprendizado, experiências naturais e valiosas para somar ao desenvolvimento do bebê. Para você que escolheu não criar um executivo de fraldas, reuni abaixo quatro dicas que podem ajudar.
Colabore com o aprendizado sem pressão
O que parece simples para nós é complexo para uma criança. Então crie um ambiente em que a criança possa conhecer as coisas ao seu redor e entender como funcionam. Jogos de montar, brinquedos com texturas, massas de modelar, quebra-cabeças e leitura contribuem com a jornada de desenvolvimento do bebê. Esteja sempre atento às perguntas — elas são o gatilho da curiosidade. Responda todas com paciência e com uma linguagem adequada para a idade.
Corpo como conhecimento
Nossa capacidade cognitiva tem sua base neurológica no cérebro e envolve habilidades físicas e mentais que permitem à criança o conhecer as próprias emoções e capacidades motoras, além do mundo ao seu redor, pessoas e objetos.
Pensando nisso, o esporte pode ser uma alternativa eficiente. No esporte a criança ganha com o desenvolvimento motor e, consequentemente, o cognitivo já que a prática de esporte exige concentração e habilidades de relacionamento nos jogos em equipe. E, de quebra, a prática esportiva também libera endorfinas, que colaboram com a sensação de bem-estar.
Estimule habilidades
A criança é uma espécie de esponja. Ela absorve quase tudo ao seu redor. Um hd externo, prontinho para receber informação. Comunicação, empatia, inteligência emocional, concentração, criatividade e organização, são pontos que devem ser moldados no convívio com familiares e amigos. É um progresso natural e gradual. Então respeite o tempo da criança e colabore por meio do exemplo.
Passeie ao ar livre
A criança precisa de contato com a natureza e desenvolver desde cedo o respeito pelo meio ambiente. Isso colabora com a imunidade e a saúde da criança como um todo. Colocar crianças em uma bolha não ajuda em nada.
*Natalia Avanci Fontenele é médica pediatra e mãe do Enrico. Atualmente atende na Multivitta em Vinhedo