Um estudo recente realizado na Região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, evidencia que a prevalência do HIV ultrapassou o limite de 1% determinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), atingindo 1,64%. Isso indica um possível quadro de epidemia silenciosa da infecção e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) no Brasil.
Diferente das estatísticas baseadas em atendimentos de saúde, que podem subnotificar casos, a pesquisa liderada pela médica epidemiologista Eliana Wendland, do Hospital Moinhos de Vento, realizou testes ativos em 8.006 pessoas, confirmando 81 casos de HIV. O estudo é pioneiro em sorologia em grande escala no país.
O HIV é um vírus que afeta o sistema imunológico e, sem tratamento, pode evoluir para a aids, o estágio mais avançado da infecção. Embora ainda não haja cura, o tratamento antirretroviral permite que pessoas com HIV levem uma vida longa e saudável, podendo até atingir carga viral indetectável, o que impede a transmissão do vírus.
A principal forma de transmissão do HIV é por meio de fluidos corporais durante relações sexuais sem proteção, compartilhamento de seringas ou de mãe para filho no parto sem assistência adequada. Contato casual, como beijos e suor, não transmite o vírus.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece testes rápidos e o tratamento preventivo conhecido como profilaxia pré-exposição (PrEP) para indivíduos com risco elevado. Procurar atendimento médico e se informar é fundamental.
Epidemia silenciosa e grupos vulneráveis
Eliana Wendland destaca que a alta prevalência indica uma epidemia generalizada, especialmente entre grupos com vulnerabilidades sociais, como pessoas negras ou pardas, de baixa renda e escolaridade, entre 30 e 59 anos.
Números que preocupam
Desde 2007, mais de 540 mil casos de HIV foram notificados no Brasil, sendo a maioria homens (70%). A infecção pode permanecer sem sintomas por anos, dificultando o diagnóstico e contribuindo para a transmissão contínua.
O estigma e o medo impedem muitas pessoas de buscar o diagnóstico e tratamento, mantendo o ciclo de infecção ativo.
Avanço também da sífilis
Além do HIV, o estudo revelou alta incidência de sífilis, que pode ser curada com penicilina, mas muitas vezes é diagnosticada tardiamente, aumentando a gravidade dos casos. A sífilis congênita representa risco para gestantes e recém-nascidos, com altas taxas em certas regiões do país.
Ministério da Saúde e ações
O Ministério da Saúde não comentou diretamente sobre a prevalência da doença em outros estados, mas ressaltou ações preventivas e o foco em populações-chave, como homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, profissionais do sexo e usuários de drogas, que apresentam maior prevalência.
Prevenir o HIV e outras ISTs requer conscientização, testes regulares e combate ao estigma, além do uso consistente de preservativos e tratamentos preventivos disponíveis.