Aristides Andrade Cavalcante Neto destacou que não haverá inspeção de dados de usuários da moeda digital
O Real Digital, atualmente em fase inicial de testes no Brasil, não vai acabar com o sistema de pagamentos instantâneos Pix, afirmou Aristides Andrade Cavalcante Neto, chefe-adjunto do Departamento de Tecnologia da Informação do Banco Central.
Aristides participou do evento Fintouch 22, promovido pela Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), nesta quarta-feira, 28, em que falou sobre o tema.
O Banco Central está desenvolvendo a sua própria moeda digital (CBDC) e já tem inclusive um laboratório para desenvolvimento e estudo de casos de uso para a inovação, o chamado LIFT Challenge Real Digital, que já conta com diversos projetos aprovados pela autarquia.
Na visão de Aristides, o Pix seria uma “forma digital baseada em reservas bancárias”, sendo uma forma digital com propósito diferente do Real Digital. “Não temos uma única formula, queremos ter formas diferentes para tratar problemas diferentes”, disse.
No caso do Real Digital, ele avalia que o objetivo é “ser um meio de pagamento com um processo mais simples e eficiente”. Ele relatou ainda que o Banco Central teve reuniões com países como a China e a Suíça, que estudam criar mecanismos de pagamentos semelhantes ao Pix.
Com os encontros, Aristides considera que a autarquia percebeu que possui a “capacidade tecnológica para desenvolver um modelo de negócios”.
O objetivo atual do Banco Central, segundo o chefe, é trazer conceitos das chamadas finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês) para os processos do banco, lidando com problemas de governança em um ambiente regulado e seguro.
Ao falar sobre a privacidade dos futuros usuários do Real Digital, Aristides ressaltou que “o brasileiro pode ficar tranquilo”, e que o Banco Central não inspecionará dados de usuários, como ocorre na China. A autarquia buscará, porém, “prevenir lavagem de dinheiro e terrorismo”.
Rodrigoh Henriques, diretor de inovação da Fenasbac, também participou do evento. A instituição foi convidada para participar do desenvolvimento do Real Digital.
Segundo ele, “não tem como o Real Digital ser uma versão chinesa ou suíça”, citando as CBDCs dos dois países. “Estamos desenhando a moeda digital brasileira, e o principal desafio é criar mecanismos para casos de uso fora do alcance do Pix”, relatou.
Ele destacou ainda que o Banco Central vê uma CBDC própria trazendo novas funcionalidades ao mercado financeiro, daí a sua necessidade. Sobre o tema de privacidade, ele defendeu que “o brasileiro não é chinês, por isso o Real Digital não vai ser como o Yuan Digital”.