Após comprar quase 3 bilhões de dólares em ações, o presidente executivo da Tesla influenciou no anúncio do botão de editar tuítes, no valor da Dogecoin e mais; entenda toda a história
Tudo começou na última segunda-feira, 28, com uma enquete no Twitter. O CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, foi até a rede social do passarinho para perguntar aos seus seguidores, através de uma enquete, se eles acreditam que o Twitter adere aos princípios de liberdade de expressão.
Após 70% responderem que não, Musk disse que considerava seriamente criar uma versão do Twitter onde “a liberdade de expressão tenha prioridade máxima” e a “propaganda seja mínima”, como disse o usuário respondido pelo bilionário.
Os comentários de Musk poderiam acabar em nada. O presidente executivo é bastante conhecido por fazer promessas que nunca são cumpridas e brincar com os seguidores na sua conta do Twitter. Às vezes, as duas se misturam e não fica claro se a publicação se trata de uma brincadeira ou um plano concreto.
Desta vez era realmente um plano, mas bem diferente do que criar a própria rede social. Alguns dias depois, Elon Musk adquiriu 9,2% em ações do Twitter, equivalente a 2,89 bilhões de dólares no momento da compra. Para comparação, o antigo CEO do Twitter, Jack Dorsey, tem 2% em ações.
O mercado reage
Somente com essa movimentação, as ações do Twitter subiram mais de 25% no pré-mercado, de acordo com a CNBC. A Dogecoin, criptomoeda meme adotada pelo bilionário, subiu 19% para US$ 0.017 nas últimas 24 horas desta terça-feira, 5.
A negociação e o valor de DOGE subiram baseados na expectativa de que o Twitter implemente a criptomeoda em sua rede. Um repórter da CNBC escreveu: “Então, Jack tem 2% do Twitter, Elon Musk tem 9%! Jack ama bitcoin. Elon Musk ama DOGE”. Até o momento, no entanto, não existem indicativos de que tal integração aconteça.
Musk entra para o conselho
Ainda na terça, 5, o Twitter anunciou que o presidente executivo da Tesla entraria para o Conselho de Administração da empresa.
O movimento, além de indicar que a rede social está de braços abertos para as opiniões de Musk, é padrão para evitar que um acionista rapidamente adquira a maioria da participação da empresa.
De acordo com documentos oficiais apresentados à Comissão de Valores Mobiliários, Musk não pode incrementar sua participação em mais de 14,9% até a reunião anual de acionistas em 2024.
O CEO atual do Twitter, Parag Agrawal, publicou em sua conta: “Estou feliz em compartilhar que estamos nomeando @elonmusk para nosso conselho! Por meio de conversas com Elon nas últimas semanas, ficou claro para nós que ele traria grande valor ao nosso conselho.”
Agrawal classificou Musk “como um apaixonado e crítico intenso do serviço, que é exatamente o que precisamos” na companhia.
I’m excited to share that we’re appointing @elonmusk to our board! Through conversations with Elon in recent weeks, it became clear to us that he would bring great value to our Board.
— Parag Agrawal (@paraga) April 5, 2022
As mudanças começam
Em mais uma enquete feita na terça, 5, Musk perguntou aos usuários se eles tinham interesse em um botão para editar tuítes.
73,5% apoiaram a ideia e, ainda no mesmo dia, o Twitter anunciou que iria começar a testar a ferramenta em seu serviço de assinatura premium. A ideia de editar tuítes existe há muito tempo, tanto entre usuários quanto funcionários do Twitter.
A ferramenta já estava em desenvolvimento muito antes de Musk comprar as ações, mas o anúncio repentino pode indicar como a opinião do bilionário — e de seus 81 milhões de seguidores — irá influenciar as decisões corporativas do Twitter.
Críticas de funcionários
Informações divulgadas pela Reuters, que conversou com funcionários da empresa, mostram que os colaboradores do Twitter estão preocupados com a capacidade do bilionário de influenciar as decisões da empresa sobre usuários abusivos e conteúdo prejudicial.
Isso porque, ao questionar a “falta” de liberdade de expressão no Twitter duas semanas atrás, Musk confunde o direito de opinião com o discurso de ódio. O pensamento do bilionário é semelhante ao do ex-presidente Donald Trump, o podcaster brasileiro Monark e o de redes sociais “não monitoradas” como o Parler.
A longo prazo, os funcionários disseram que o envolvimento de Musk pode mudar a cultura corporativa do Twitter, que eles dizem que atualmente valoriza a diversidade.
Musk foi altamente criticado por publicar memes (algo que já é tradição em seu Twitter) que fazem piada sobre transgêneros e esforços de combate à Covid-19. Ele também chegou a comparar nestes memes alguns líderes mundiais a Hitler.
— Elon Musk (@elonmusk) April 7, 2022
Já outros funcionários acreditam que o envolvimento de Musk pode ajudar a acelerar o ritmo de lançamentos de novos recursos e produtos, além de fornecer uma nova perspectiva como usuário ativo do Twitter.
Em resposta as preocupações dos funcionários, o Washington Post divulgou nesta sexta-feira, 8, que Musk irá participar de uma sabatina com os colaboradores da empresa para responder dúvidas que eles possam ter.
A participação de Elon Musk no Twitter é a primeira vez que o bilionário se envolve no mercado das redes sociais. Em entrevista à BBC, Alexandra Cirone, professora assistente da Universidade de Cornell, disse que Musk pode aproveitar para “tentar influenciar as práticas do Twitter” e usar sua participação para um “jogo mais ativo no ecossistema de redes sociais”.
Seja por dinheiro ou pelo fato que o presidente executivo sempre foi um usuário ativo do Twitter, a movimentação promete uma nova era para a rede social. Todos estarão de olho nos próximos tuítes de @elonmusk.