JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Especialistas preveem um aumento considerável no preço do petróleo e queda nas Bolsas de Valores após o ataque dos EUA ao Irã, na abertura dos mercados nesta segunda-feira (23).
Uma possível consequência do bombardeio americano é o bloqueio do estreito de Hormuz, por onde passa mais de 20% do petróleo comercializado mundialmente. Sem essa rota, o transporte do petróleo fica mais difícil e caro, elevando o valor final.
Na última sexta-feira (20), o petróleo Brent, referência no mercado, encerrou o dia cotado a US$ 75,48 o barril. Caso o estreito de Hormuz seja bloqueado, economistas preveem que o preço alcance cerca de US$ 100.
Gabriel Mota, sócio da Manchester Investimentos, comenta: “O petróleo estava em US$ 55, após cair por conta das tarifas de Trump, e subiu para US$ 75 devido ao conflito entre Irã e Israel”.
Essa alta deve favorecer as ações de empresas petrolíferas. No Brasil, Petrobras, Brava Energia (antiga 3R Petroleum), PetroReconcavo e Prio podem ter valorização em suas ações na segunda-feira (22).
Gabriel Mota acrescenta: “A Petrobras tem um ponto importante. O governo tem falado sobre a necessidade de dividendos extraordinários das estatais, e a Petrobras estaria entre elas, especialmente se o petróleo se estabilizar acima de US$ 100. Isso é algo mais estrutural, mas o mercado pode precificar esse dividendo extraordinário”.
Além da valorização das petrolíferas, o bloqueio em Hormuz deve aumentar preços globalmente, causando inflação e dificultando a redução das taxas de juros, como desejado pelo presidente dos EUA.
Matheus Spiess, estrategista da Empiricus Research, afirma: “Não vejo o fechamento como algo sustentável, mas se durar, terá impactos severos no preço do petróleo. Isso pode gerar uma espiral inflacionária que afetará políticas monetárias de vários países, inclusive o Brasil”.
A Petrobras busca mitigar o impacto das variações do preço do petróleo no Brasil, absorvendo as oscilações para garantir maior estabilidade no mercado interno.
Na semana anterior, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, declarou que a alta recente no preço do petróleo não levará a mudanças abruptas nos preços dos combustíveis no país: “Quando falamos de preços do diesel e gasolina, não fazemos movimentos repentinos”.
Esses combustíveis influenciam fortemente o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que está acima da meta do Banco Central. Com a previsão de preços maiores, os juros futuros tendem a subir, aumentando as taxas por mais tempo e prejudicando ativos de renda variável.
O dólar também pode ser afetado. Analistas antecipam valorização da moeda americana devido à fuga de investidores para ativos considerados seguros, como ouro e títulos do Tesouro dos EUA.
Matheus Spiess pondera que parte da alta do dólar pode ser compensada pelos benefícios da exportação de petróleo mais caro para a balança comercial brasileira: “Podemos ter alguma força para o real, mas o impacto inflacionário será sentido por todos”.
Cássio Bambirra, diretor da One Investimentos, destaca o impacto no agronegócio devido ao aumento nos custos de fertilizantes importados: “O Brasil pode enfrentar um câmbio mais volátil e custos elevados, pressionando o setor com insumos mais caros e logística global mais complexa, elevando os preços internos”.
Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, observa que a ociosidade da Opep e a desaceleração da economia global podem atenuar parte da alta do petróleo: “O momento exige cautela e uma diversificação equilibrada para proteger investimentos da volatilidade”.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, concorda: “O ideal é manter a calma e não agir precipitadamente, pois é difícil distinguir o que é conjuntural do estrutural. Em momentos de tensão, uma carteira diversificada demonstra seu valor”.
O consenso é de que o mercado financeiro terá dias de grande aversão ao risco, a menos que o Irã recue rapidamente, o que é visto como improvável.
Marcos Praça, diretor da ZERO Markets Brasil, comenta: “A especulação está centrada na possibilidade de resposta direta do Irã aos EUA”.
As criptomoedas já sinalizam instabilidade, pois operam 24 horas. No final da tarde de domingo, o bitcoin caiu 3,17%, ficando em US$ 98,9 mil, seu menor valor em um mês, e o Ethereum recuou 8,4%, para US$ 2.185.