RENATA GALF
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Uma pesquisa realizada pelo ConnectLab, centro de estudos da FGV, em parceria com a Quaest, mostra que petistas e bolsonaristas têm um nível de confiança quase igual entre seus próprios grupos políticos e suas famílias.
Na pesquisa, que avaliou confiança em uma escala de 0 a 10, bolsonaristas confiam em suas famílias com nota média 8,3, enquanto petistas deram nota 7,5. A confiança em seus grupos políticos é um pouco menor, com notas de 7,8 para bolsonaristas e 7,3 para petistas.
Essa confiança é maior do que a que ambos os grupos têm em pessoas fora de seus círculos, que receberam nota 4,5. No entanto, a desconfiança entre os grupos opostos é muito alta, onde bolsonaristas confiam em petistas com nota 0,8, e petistas confiam em bolsonaristas com nota 1.
A pesquisa ouviu 2.004 pessoas maiores de 16 anos, entre 13 e 17 de agosto de 2025, com margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Segundo Nara Pavão, professora da UFPE e participante do estudo, esses dados mostram a importância dos grupos políticos na sociedade brasileira e a grande divisão entre eles.
“Há uma tendência de confiar no próprio grupo como se fosse a família e desconfiar mais do grupo oposto do que de pessoas desconhecidas”, afirma Nara Pavão. “Isso mostra a força desses grupos porque confiar na família é a maior confiança que temos no Brasil.”
O estudo também avaliou o grau de desumanização entre os grupos usando uma escala de evolução humana, do macaco ao Homo sapiens. Ambos os grupos se classificam com notas altas (petistas 8,2 e bolsonaristas 8,5), e atribuem notas baixas ao grupo oposto (petistas para bolsonaristas 2,4 e bolsonaristas para petistas 2,5).
Felipe Nunes, diretor da Quaest, comenta que essa desumanização mostra que ambos os lados tratam o adversário como inimigo, evidenciando uma polarização simétrica.
A pesquisa quer ser repetida anualmente para monitorar a polarização e o apoio à democracia no Brasil.
Os dados indicam que a polarização influencia relações pessoais e decisões práticas, como onde matricular filhos ou fazer compras, com a maioria evitando grupos políticos opostos nessas situações.
Além disso, muitos entrevistados acreditam que o grupo político oposto apoia violência política e aprova leis prejudiciais contra seu próprio grupo.
Percepção da Polarização
Na pesquisa, 31% dos entrevistados se declararam independentes, 25% à direita, 13% bolsonaristas, 15% à esquerda e 16% petistas. No entanto, eles percebem os grupos com tamanhos diferentes: independentes (15%), direita (19%), bolsonaristas (25%), esquerda (15%) e petistas (26%).
Nara Pavão e Felipe Nunes sugerem que essa percepção exagerada contribui para aumentar a polarização, criando um ciclo difícil de quebrar.