Clientes dos suspeitos são os mesmos de criminosos presos nas fases anteriores da operação, diz Polícia Civil.
O ex-militar do Exército José Ferreira Gomes Neto, de 38 anos, e o suspeito de se passar por policial militar Ernani de Jesus Pinho, de 41 anos, foram presos na manhã desta sexta-feira (18) no Distrito Federal durante a 3ª fase de Operação Paiol, que combate o tráfico de armas e munições.
Na casa dos dois, a Polícia Civil apreendeu um fuzil, e duas pistolas – uma calibre .40 e outra .380 – além de 10 mil munições. O fuzil, segundo a corporação, é de uso exclusivo das Forças Armadas, assim como uma luneta e um mira a laser – acessórios para melhorar a visão do atirador.
Os suspeitos entraram no radar da 23ª DP, que coordena as investigações, porque os clientes deles eram os mesmos que compravam armas e munições dos presos nas fases anteriores da operação.
Mesmo assim, a polícia informou que ainda investiga a relação dos dois entre si e entre os demais. Também serão investigadas as circunstâncias em que o “falso” PM utilizava a farda e o distintivo militar.
Em nota ao G1, a Polícia Militar informou que todas as lojas autorizadas a fazer as fardas são credenciadas e fiscalizadas. “Os alfaiates e costureiros são obrigados a solicitar a identidade funcional aos que encomendam fardamento.”
Segundo a corporação, quem usar uniformes falsos da PM ou mesmo os originais de forma indevida podem responder por crime de falsa identidade, cuja pena varia de três meses a um ano.
Etapas
Desde março, quando foi deflagrada a operação, 27 pessoas foram presas. A polícia também recolheu 27 armas e 30 mil munições.
Na primeira fase da Operação Paiol, a polícia prendeu 17 pessoas e recolheu, ao menos, sete armas de fogo. Munições, drogas e até dinamites – usadas para explosão de caixas eletrônicos – também foram apreendidos.
Entre os detidos, estava o suspeito de comandar o grupo: Pedro Henrique Santana. Segundo a Polícia Civil, ele serviu o Exército como soldado em 2011 – era ano de serviço militar obrigatório. Ele também teria atuado como policial militar em Goiás em um contrato temporário até 2015.
Na época, as investigações apontavam que Santana vendia as armas após obtê-las dos colegas de farda que, segundo a PCDF, ainda fazem parte do quadro militar.
Já na segunda fase, cinco pessoas foram presas. Entre elas, um policial militar da reserva, um militar da Aeronáutica e um ex-militar do Exército. Este último é o próprio Santana, detido na primeira fase.
Na ocasião, foram apreendidas 16 armas – entre revólveres, pistolas e espingardas – cerca de mil munições, além de dinheiro falsificado e coletes à prova de balas.
Paiol por quê?
A operação recebeu o nome de “paiol”, porque, na arquitetura militar, o termo é usado para fazer referência a locais de armazenamento de explosivos e munições. As investigações são lideradas pela 23ª Delegacia de Polícia (P Sul) em parceria com o Departamento de Polícia Circunscricional (DPC).
De acordo com o delegado-chefe da 23ª DP, Victor Dan, nesta associação criminosa cada suspeito tinha funções definidas em posições na hierarquia do grupo:
- Fornecimento: a Polícia Civil investiga se militares do Exército forneciam as armas para o grupo;
- Aluguel e venda: o ex-militar investigado como principal suspeito recebia as armas e as repassava a criminosos;
- Prática de crimes: criminosos roubavam com as armas obtidas. Menores de idade participariam dos crimes;
- Receptação: o ex-militar também recebia os produtos dos roubos, como celulares. Ele costumava trocá-los por munição;
- Recrutamento: um dos integrantes era responsável por recrutar clientes e novos integrantes do grupos;
- Revenda: outro integrante revendia os celulares no mercado local.
Na segunda fase, foram cumpridos 18 mandados de prisão e de busca e apreensão no DF e em três cidades do estado de Goiás. Diversas armas e munições foram localizadas nas residências dos envolvidos. Mais de 200 policiais participaram da operação.