O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, denunciou nesta sexta-feira (27) um sistema militarizado de distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza que tem resultado em mortes, enquanto Israel o acusa de estar alinhado com o Hamas.
Após mais de 20 meses de conflito intenso entre o Exército israelense e o Hamas, provocado pelo ataque do movimento palestino em outubro de 2023, a situação humanitária em Gaza se agravou significativamente. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manifestou otimismo quanto a um possível cessar-fogo na próxima semana.
Na sexta-feira, ao menos 80 pessoas foram mortas em diferentes partes da Faixa de Gaza devido a bombardeios ou tiros israelenses, dentre elas dez que aguardavam ajuda humanitária, conforme informou a Defesa Civil local.
Na quinta-feira, 65 palestinos também foram mortos em circunstâncias similares. Sete dessas vítimas estavam em um centro da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada por Israel e Estados Unidos.
Guterres afirmou à imprensa em Nova York que “pessoas estão morrendo simplesmente por tentarem alimentar suas famílias” e que buscar alimentos não deveria ser uma sentença de morte.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel respondeu dizendo que a GHF forneceu milhões de refeições aos civis palestinos, e acusou a ONU de se alinhar com o Hamas ao se opor a esses esforços.
Acusações e tensões
A ONG Médicos Sem Fronteiras acusou a GHF de realizar uma distribuição simulada de alimentos que tem causado massacres. Israel mantém um bloqueio humanitário em Gaza desde março, causando escassez de produtos essenciais, parcialmente suspenso em maio quando a GHF iniciou suas atividades.
O primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu, defendeu o Exército e negou acusações de ordens para atirar contra civis desarmados que esperavam por ajuda.
Das vítimas recentes, dez estavam em fila para receber ajuda humanitária em três locais diferentes, conforme relatado por um porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmoud Bassal. O Exército israelense negou ter disparado nessas situações.
Consequências do conflito
O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, reportou quase 550 mortos e mais de 4.000 feridos em filas de espera perto dos centros de distribuição desde que a GHF começou a atuar.
A GHF afirma que suas operações ocorrem sem problemas e nega incidentes fatais em seus postos. Enquanto isso, o Exército israelense prossegue com operações militares contra o Hamas, como represália ao ataque de outubro de 2023 que matou 1.219 pessoas, em sua maioria civis.
Os milicianos islamistas mantêm 49 reféns em Gaza, dos quais 27 já faleceram em cativeiro, segundo Israel. Desde o início do conflito, mais de 56 mil pessoas, principalmente civis, já morreram em Gaza.
Esta trágica realidade evidencia a complexa e delicada situação humanitária na região, que continua sendo palco de intensos confrontos e profunda crise humanitária.