Papeis já eram negociados com desconto em razão dos riscos de interferência política; veja o que o mercado espera da próxima gestão de Adriano Pires
A nova troca de comando da Petrobras (PETR3, PETR4), com a substituição do general Joaquim Silva e Luna pelo consultor Adriano Pires, volta a suscitar entre investidores e analistas duas questões fundamentais:
- O que vai acontecer com as ações no curto e no médio prazos?
- Mais importante: vale a pena comprar a ação ou vendê-la?
É importante dizer que a troca não chegou a ser uma surpresa, uma vez que o presidente Jair Bolsonaro, a quem cabe a prerrogativa da decisão dado que a União é a acionista controladora da estatal, já vinha declarando publicamente a sua insatisfação com Silva e Luna e sinalizando que a demissão poderia acontecer a qualquer momento.
E o presidente da República já havia agido da mesma forma pouco mais de um ano atrás, quando demitiu também de forma intempestiva o então CEO da petrolífera, Roberto Castello Branco, em razão de seu descontentamento com a gestão.
Diante dessas informações, analistas e investidores mais experientes já haviam colocado no cálculo de preço justo das ações ordinárias e preferenciais, e na própria cotação à vista, o risco político de uma intervenção do governo federal. Tanto que as ações têm sido negociadas a múltiplos mais baixos do que seus pares no Brasil e no exterior em um momento de alta do preço do petróleo.
“Enquanto nós reconhecemos que as ações permanecem baratas por praticamente qualquer ótica, nós achamos que a disposição dos investidores de pagar pelos fundamentos da companhia vai seguir baixa por enquanto”, apontaram os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte, da equipe de Equity Research do BTG Pactual, em relatório nesta terça, dia 29.
“Nós reiteramos que esperamos que o novo CEO preserve a política orientada para o retorno na Petrobras, mas o constante ruído de Brasília é obviamente negativo”, completam no relatório.
Os analistas avaliam ainda como pode ser interpretada a nomeação de Pires para o comando da estatal.
Segundo eles, a nomeação reforça o sentimento de preocupação do governo com o impacto inflacionário sobre a população, o que, em ano eleitoral, pode ser usado como instrumento político.
Mas apontam que, em sua avaliação, “[a mudança potencial no comando] deve representar pouco em termos de interferência direta na estratégia de precificação dos combustíveis”, citando que, por lei, diretores e membros do conselho de administração são legalmente responsáveis por decisões que resultem em perdas financeiras para a companhia.
“Nós achamos […] que a decisão é muito mais uma tentativa de melhorar a comunicação com a sociedade e os políticos do que um esforço direto para mudar a estratégia de curto prazo [de manter os preços dos combustíveis alinhados com as cotações internacionais do petróleo]”, escrevem no relatório.
Os analistas do banco de investimento por fim reiteram a recomendação neutra para o papel — o PBR, um dos ADRs da estatal negociados na Bolsa de Nova York –, apontando que preferem no setor outras ações de companhias com pouco ou nenhum risco político.