Com os preços dos combustíveis em alta em muitos países do mundo, o termo “crise energética global” foi proferido com maior frequência nos últimos dias, com grupos como a Agência Internacional de Energia (AIE) alertando para tal risco há menos de um mês.
Então, o que é exatamente uma crise de energia e como ela ocorre, e o que exatamente isso significa para aqueles afetados por ela?
Natureza e origens
Simplificando, uma crise de energia acontece quando a oferta de energia disponível não é suficiente para satisfazer a demanda por ela, isto faz com que os preços da energia subam drasticamente como resultado.
Tal situação pode surgir devido a vários fatores, como fenômenos naturais e maquinações humanas.
Por exemplo, no ano passado o Brasil enfrentou uma crise de energia local quando uma seca severa afetou a produção de usinas hidrelétricas no país — usinas das quais o Brasil depende em grande parte para satisfazer sua necessidade de eletricidade.
Por outro lado, a interrupção das exportações de petróleo do Oriente Médio na década de 1970, causada por eventos cataclísmicos na região, como a Guerra do Yom Kippur de 1973 e a revolução no Irã em 1979, resultaram em uma crise energética provocada pelo homem que tomou conta das potências ocidentais durante esse período.
Crise energética atual
Embora as hostilidades em curso na Ucrânia sejam frequentemente mencionadas na mídia quando se fala sobre o atual estado dos mercados de energia, os preços crescentes da energia no Ocidente têm mais a ver com a resposta das potências ocidentais ao conflito em questão do que com o conflito em si.
Ou seja, são os Estados Unidos e seus aliados que, ao decidir impor sanções contra as importações de energia russas, mergulharam os mercados de energia em uma turbulência e elevaram os preços dos combustíveis em vários países, incluindo os próprios EUA.
O movimento dos países do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) de introduzir um teto de preços para o petróleo russo, levou a Rússia a prometer, quase imediatamente, que pararia de vender petróleo aos países que cumpram esse regulamento, o que não contribuiu para melhorar a situação, especialmente considerando o fato de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) parece relutante em aumentar a produção de petróleo neste momento.
A situação energética na Europa tornou-se ainda mais complicada em setembro, quando uma série de explosões – um ato de terrorismo internacional – efetivamente interrompeu as entregas do gasoduto Nord Stream (Corrente do Norte), que era usado para transportar gás natural da Rússia para a Alemanha.
Como ela afeta os países?
Assim como as crises energéticas significam problemas para os países que dependem das importações de energia, elas tendem a beneficiar os Estados produtores de energia, já que a alta dos preços da energia equivale a maiores lucros para eles.
Certos atores podem tentar nivelar o campo de jogo, por assim dizer, introduzindo medidas como o teto de preços acima mencionado nas exportações de petróleo russo, mesmo que tais medidas pareçam minar a própria ideia de livre mercado que o Ocidente geralmente promove.
Assim, as próprias medidas que os Estados Unidos e seus parceiros comerciais empregaram em uma tentativa de prejudicar a economia da Rússia podem acabar enriquecendo os produtores de energia em todo o mundo, mesmo que as pessoas em alguns países acabem lutando para pagar suas contas de energia.
A situação atual é especialmente dolorosa para a Europa, que se tornou cada vez mais dependente do fornecimento barato de energia russa nas últimas três décadas.
O aumento dos preços da energia na Europa já resultou na transferência de várias empresas europeias para os Estados Unidos, onde os preços da energia parecem relativamente mais estáveis, enquanto os próprios EUA parecem prestes a aumentar suas próprias receitas vendendo gás natural liquefeito (GNL) para a Europa, que efetivamente ficou cortada do fornecimento de gás natural da Rússia.
Enquanto a Europa se esforça para lidar com os preços da energia em casa, a Casa Branca liberou milhões de barris de petróleo da Reserva Estratégica de Petróleo do país para mitigar esse problema nos Estados Unidos.