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sexta-feira, 01/11/2024
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“Nosso maior desafio não é a falta de médico, mas a aglomeração das pessoas”, diz médico no RS

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Em Brasília

(Sindicato Médico do Rio Grande do Sul/Divulgação)

Casas, hospitais, estradas, empresas, pessoas, animais – tudo foi impactado pela enchente história do Rio Grande do Sul. Mais de 400 municípios foram afetados e mais de 100 pessoas morreram. A calamidade pública atingiu praticamente todo o estado gaúcho que conta hoje com a ajuda não apenas do governo estadual e federal, mas também de empresas e civis para passar por essa situação de calamidade pública – segundo o governador Eduardo Leite, estima-se um valor inicial de 19 bilhões de reais para reconstruir o estado.

Uma das áreas que mais vai necessitar desse apoio será a área da saúde. O hospital privado Mãe de Deus, em Porto Alegre, foi um dos hospitais alagados. Henri Siegert Chazan, presidente do Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre, quando soube que o hospital Mãe de Deus estava sendo invadido pela água, pegou emprestado de um amigo um jipe antigo do exército americano e foi até o local ajudar no resgate.

“Vi soldados do Exército Brasileiro retirarem os 300 pacientes que estavam internados neste hospital que foram transportados em caminhões”, disse o executivo que comentou que chegou a ver a retirada também de medicamentos oncológicos que estavam em uma geladeira desligada. “Muitos pontos de energia foram desligados na cidade, por uma questão de segurança, afinal, o que víamos era água para todo o lado”.

Neste momento de crise, os hospitais cancelaram todas as cirurgias que não são de emergência e estão recebendo água de caminhão, afirma Chazan. “Na enchente, a ironia é que estamos sem água”, diz. “Nos hospitais a água que chega é somente para os pacientes, já os médicos, por exemplo, não podem tomar banho no local, o que era de costume em plantões”.

Diferente de catástrofes como em Brumadinho ou em um estado de guerra, as pessoas não estão chegando nos hospitais com ferimentos muito graves.

“Por isso, não estamos precisando tanto de médicos para casos de emergência. O que mais a população está precisando agora são de psiquiatras e psicólogos”, diz Chazan.

Fernando Uberti, vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, é psiquiatra e reforça que a maior preocupação da saúde não está sendo a quantidade de médicos e sim no cuidado onde elas estão hoje.

“Como sindicato, mobilizamos a nossa rede de voluntários, que conta com médicos e estudantes de medicina para captação de doações de medicamentos, produtos de higienes e insumos médicos”, diz o médico que afirma que o ponto de coleta está funcionando 24 horas no estacionamento do sindicato e mais de mil médicos se cadastraram para o trabalho social na região.

Os desafios da área da saúde gaúcha

No primeiro momento, Uberti comenta que o foco estava nas doações e no trabalho voluntário e depois sentiram a dificuldade nos atendimentos médicos nos abrigos, uma vez que as aglomerações podem gerar diferentes doenças.

“Em articulação com a prefeitura de Porto Alegre, assumimos os fluxos dos médicos em 27 abrigos. Ficamos responsáveis por gerenciar as escalas, os insumos, o atendimento clínico e pediátrico”, diz. “Temos muitas crianças nos abrigos e aqui já está com baixa temperatura, e já sabemos que crianças apresentam mais doenças respiratórias, por isso estamos atuando nos abrigos para não sobrecarregar os hospitais”.

Desde quarta-feira, 8, o médico comenta que estão oferecendo tele consultas com psiquiatras e infectologistas, como um suporte aos médicos que estão nos abrigos. “Vamos precisar muito de psicólogos, pediatras e infectologistas, principalmente por causa do risco de dengue e leptospirose”, afirma.

Esse suporte está sendo realizado em Porto Alegre, mas mais de 400 cidades estão com pessoas desabrigadas, dormindo em abrigos. “Nas outras regiões, ainda não conseguimos chegar, por que grande parte das estradas foram destruídas, por isso, todo o apoio com a logística e doações é bem-vindo.”

Pelo ponto de vista econômico, Chazan como representante dos hospitais privados, reforça a necessidade de apoio a essa classe.

“Os hospitais públicos têm verba do governo federal, mas os hospitais privados e clínicas, que atendem só convênios e saúde suplementar, vão ter zero de faturamento por 1 e 2 meses, e essas empresas vão quebrar. Precisamos que os planos de saúde considerarem a relação econômica desses prestadores de serviço que vão fazer falta do futuro”.

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Luciana Mesko, médica psiquiatra e diretora do Simers, é uma das médicas que está atuando em abrigos em Porto Alegre, RS (Sindicato Médico do Rio Grande do Sul/Divulgação)

Os medicamentos vêm do alto

Com estradas destruídas pelas enchentes, Porto Alegre está recebendo os medicamentos por doações com helicópteros, assim como a cidade de Canoas. Além do governo federal e prefeitura, empresários e pessoas físicas estão ajudando com as doações de remédios.

“Acabou de decolar do âmbar aqui de Porto Alegre o helicóptero do Neymar, que veio carregado de medicamentos. Não sei onde compraram, mas agora estão indo realizar doações em Guaíba”, afirma Chazan que reforça que as doações que mais precisam agora são de uso contínuo.

“As pessoas saem de casa correndo, e por isso esquecem os remédios de pressão, colesterol e até psiquiátricos”, diz o vice-presidente que comenta que também estão precisando de doação de fraldas, lenço umedecido e absorventes. “Não tem água para banho em muitos abrigos e esses insumos ajudam as pessoas a terem um pouco de dignidade.”

Para ajudar no transporte das doações, Chazan conta que estados estão ajudando muito com o envio de helicópteros.

“Ontem mesmo tinha aqui um helicóptero de Santa Catarina ajudando com as distribuições de remédios e comidas. Também têm helicópteros grandes e pequenos de São Paulo. Um avião de Minas Gerais transportou hoje centenas de antenas de comunicação via satélite que foram doadas por meio do Instituto Cultural Floresta. A chegada dessas antenas foi muito significante, afinal, não tem como coordenar auxílio sem comunicação”, diz o presidente do sindicato que reforça que não encontrou mais botes e jet ski à venda.

“Muitas pessoas de outros estados compraram e vieram ajudar com os resgates de pessoas e animais aqui no Sul. É impressionante ver esse voluntariado espontâneo. É uma situação que nos faz crescer como ser humano e que nos dá esperança de um dia retomar a vida normalmente.”

Para ajudar com doações e ou trabalho voluntário na região do Rio Grande do Sul, veja aqui as ONGs que estão ajudando localmente.

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