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segunda-feira, 25/11/2024
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Mulheres são a maior parte dos trabalhadores essenciais nos EUA

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Um em cada três empregos ocupados por mulheres foi designado como essencial, de acordo com uma análise de dados censitários

EUA: o país já tem mais de 1 milhão de infectados pelo coronavírus (Kevin Lamarque/Reuters)

Todos os dias, Constance Warren trabalha no balcão de frios de um supermercado em Nova Orleans, vendo os clientes regulares irem e virem.

Eles lhe agradecem e dizem que não gostam de ficar presos em casa, esperando a epidemia acabar. Ela embrulha seu peru defumado com mel e sorri.

É bom ter um emprego agora, o misto de sorte e azar de ser considerado um trabalhador essencial. Mas ela se pergunta, quando a vida voltar a ser segura, se as pessoas vão se lembrar do papel que ela desempenhou quando havia insegurança.

“Não se esqueça de que estávamos abertos para atendê-lo em seu momento de necessidade. Você nunca sabe quando pode precisar de nós novamente”, disse ela durante uma pausa do trabalho em uma tarde recente.

Do caixa ao enfermeiro do pronto-socorro, passando pelo farmacêutico e pelo assistente de saúde domiciliar que pega ônibus para verificar pacientes idosos, o soldado na linha de frente da atual emergência nacional é provavelmente uma mulher.

Um em cada três empregos ocupados por mulheres foi designado como essencial, de acordo com uma análise do “The New York Times” de dados censitários cruzados com as diretrizes essenciais dos trabalhadores do governo dos EUA. Mulheres não brancas são mais propensas a fazer trabalhos essenciais do que qualquer outra pessoa.

O trabalho que fazem é normalmente mal pago e desvalorizado – uma força de trabalho invisível que mantém os EUA funcionando e cuida dos mais necessitados, independentemente de haver uma pandemia.

As mulheres são quase nove em cada dez enfermeiros e auxiliares de enfermagem, a maioria dos terapeutas respiratórios, a maioria dos farmacêuticos e a esmagadora maioria dos auxiliares e técnicos de farmácia. Mais de dois terços dos trabalhadores em supermercados e balcões de fast food são mulheres.

Em tempos normais, os homens são a maioria da força de trabalho global. Mas esta crise mudou isso. Em março, o Departamento de Segurança Interna dos EUA divulgou um memorando identificando “Trabalhadores Essenciais da Infraestrutura Crítica”, um guia consultivo para autoridades estaduais e federais. Ele listou dezenas de empregos, sugerindo que eram vitais demais para ser interrompidos, mesmo quando cidades e estados inteiros estavam em confinamento. A maioria deles é ocupada por mulheres.

Entre todos os trabalhadores do sexo masculino, 28 por cento têm empregos considerados parte dessa força de trabalho essencial. Alguns dos maiores empregadores de homens dos EUA são a construção civil e a carpintaria – linhas de trabalho que estão agora interrompidas, em sua maioria.

Os homens compõem a maioria dos trabalhadores em vários setores essenciais, incluindo o policiamento, o controle de tráfego e os serviços públicos, e milhões enfrentam sérios e inquestionáveis riscos ao ir trabalhar todos os dias. Mas simplesmente não há tantos desses empregos como há na indústria da linha de frente: a saúde.

Há 19 milhões de trabalhadores de saúde nos EUA, quase três vezes mais do que na agricultura, na aplicação da lei e na indústria de entrega combinadas.

Muito antes do surto, em um país que vai envelhecendo e ficando doente, a demanda por cuidados de saúde era quase ilimitada. O tamanho dessa força de trabalho aumentou ao longo das décadas à medida que os avanços médicos foram prolongando a vida dos saudáveis e dos doentes.

Há agora quatro enfermeiros registrados para cada policial, e ainda assim os hospitais se queixam da falta de profissionais de enfermagem. Nesse setor grande e sempre crescente, e agora indispensável, da economia, quase quatro em cada cinco trabalhadores são mulheres. Isso se reflete em outra estatística sombria: médicos e enfermeiros do sexo masculino morreram na linha de frente, mas um relatório recente do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA descobriu que as mulheres são responsáveis por 73 por cento dos profissionais de saúde dos EUA que foram infectados desde o início do surto.

A indústria de saúde dos Estados Unidos vai muito além dos hospitais, abrangendo um vasto exército de pessoas que cuida de jovens, velhos e doentes. Segundo Mignon Duffy, professora da Universidade de Massachusetts Lowell que estuda mulheres e mão de obra, “essa força de trabalho assistencial faz parte da infraestrutura de toda a nossa sociedade. Ela mantém tudo funcionando. No entanto, há muito tempo tem sido desvalorizada, uma negligência que é bastante óbvia agora, dada a escassez aguda de equipamentos básicos de segurança no país. Mas agora estamos sendo forçados a identificar quem são os trabalhadores essenciais. E adivinha quem eles são?”.

Mas ser essencial não significa ser bem recompensado ou mesmo notado.

Embora as mulheres tenham aumentado constantemente sua parcela de empregos de ponta na área de saúde, como cirurgiãs e em outras especialidades, elas também têm preenchido os empregos invisíveis que proliferam na parte mais baixa da escala salarial, as trabalhadoras que passam longos e mal pagos dias dando banho, alimentando e medicando algumas das pessoas mais vulneráveis nos EUA. Dos 5,8 milhões de pessoas que trabalham em serviços de saúde que pagam menos de US$ 30 mil por ano, metade não é branca, e 83 por cento são mulheres.

Auxiliares de saúde e de cuidados pessoais domiciliares, empregos que ganham pouco mais do que o salário mínimo e até recentemente estavam isentos de proteções trabalhistas básicas, são duas das ocupações que mais crescem em todo o mercado de trabalho dos EUA. Mais de oito em cada dez desses trabalhadores são mulheres.

“Fazemos parte dos cuidados de saúde e não somos reconhecidas”, disse Pam Ramsey, de 56 anos, que passou anos sem seguro-saúde trabalhando como assistente de saúde domiciliar no interior da Pensilvânia.

Ramsey não optou por fazer isso. Aos 20 anos, ela se formou em mecânica automobilística, uma das três mulheres em sua turma de graduação de 115. Mas seu pai ficou gravemente ferido quando trabalhava em uma mina de carvão, e o dever de cuidar dele acabou ficando para ela e não para seus irmãos. Ela cuida de pessoas, de forma remunerada ou não, desde então.

Se os equipamentos de proteção estão em falta nos hospitais das grandes cidades, eles são praticamente inexistentes no trabalho de Ramsey. Ela vai trabalhar sem equipamento além do que pode encontrar em lojas. Não tem um documento formal, como muitos outros têm, identificando-a como trabalhadora essencial. Um policial recentemente a parou e interrogou quando ela estava comprando remédios.

“As pessoas não olham para nós porque não temos licença, certificado, nenhuma prova de que somos tão bons quanto elas”, afirmou Ramsey.

Mas ainda assim ela vai trabalhar, levando todo o álcool gel e a água oxigenada que consegue encontrar.

O fato de que milhões de trabalhadores são “impulsionados por incentivos que não são puramente econômicos” é em parte o motivo pelo qual esse trabalho tem sido tradicionalmente tão desvalorizado, disse Gabriel Winant, historiador trabalhista da Universidade de Chicago.

“É um tipo de função que não produz um objeto que possa ser negociado ou vendido; é simplesmente o trabalho que tem de ser feito. Existe todo um sistema em vigor para fazer com que não pensemos nisso como uma infraestrutura crítica”, observou ele.

Até que o sistema entre em choque.

“Não me candidatei para trabalhar em uma pandemia, mas não vou embora quando as pessoas precisam de mim”, declarou Andrea Lindley, de 34 anos, enfermeira de UTI de um hospital da Filadélfia, onde dezenas de pacientes com coronavírus foram internados.

Metodologia: o “The New York Times” identificou trabalhadores essenciais aplicando as diretrizes essenciais do governo dos EUA com códigos de indústria e ocupação contidos nos microdados da Pesquisa Comunitária Americana do Censo dos EUA, 2014-18, obtidos em ipums.org. Em alguns casos, todos os trabalhadores de uma categoria, como o policiamento, foram marcados como críticos, mas em outros casos, como o varejo, apenas trabalhadores de lojas que foram autorizadas a permanecer abertas, como supermercados e farmácias, foram incluídos.

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