As doenças do coração permanecem a maior causa de mortes no mundo, mas os tipos que lideram esse triste ranking mudaram bastante nas últimas cinco décadas. É o que revela uma pesquisa publicada recentemente no Journal of the American Heart Association.
O estudo analisou dados de mortalidade nos Estados Unidos entre 1970 e 2022 e mostrou uma queda de 89% nas mortes por infarto agudo do miocárdio. Enquanto em 1970 os infartos respondiam por mais da metade das mortes por doenças cardíacas, em 2022 essa porcentagem caiu para menos de um terço.
Por outro lado, mortes por outros problemas cardíacos, como arritmias, insuficiência cardíaca e complicações pela pressão alta, aumentaram 81%, chegando a quase metade dos óbitos por causas cardíacas.
“Esse cenário demonstra nosso avanço no tratamento do infarto, mas também expõe novos desafios. A insuficiência cardíaca e as arritmias estão em crescimento e precisamos enfrentá-las”, ressalta a médica Sara King, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade Stanford.
Doenças cardíacas e fatores de risco
As doenças do coração são causadas por problemas nos músculos cardíacos e vasos sanguíneos. Entre as principais estão a doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, arritmias, doença cardíaca reumática, cardiopatias congênitas, além da hipertensão e infarto.
Os principais fatores que aumentam o risco dessas doenças são hipertensão arterial, colesterol elevado e tabagismo. Outras condições como diabetes, obesidade, dieta inadequada, sedentarismo e consumo excessivo de álcool também contribuem para esse risco.
Avanços que salvam vidas
A queda nas mortes por infarto se deve a inúmeros avanços médicos e sociais, incluindo a popularização da reanimação cardiopulmonar, o uso de desfibriladores, unidades coronarianas especializadas e medicamentos mais eficazes como betabloqueadores, estatinas e antiplaquetários.
Melhorias nos exames, procedimentos como angioplastia e implantação de stents, e o diagnóstico precoce de emergências cardíacas também foram fundamentais. Além disso, políticas públicas que combatem o tabagismo e incentivam a atividade física reduziram fatores de risco importantes.
Situação atual e desafios
Mesmo com esses avanços, as doenças cardíacas foram responsáveis por 31% das mortes nos Estados Unidos entre 1970 e 2022, representando 24% das mortes em 2022 só naquele país.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, doenças cardiovasculares continuam sendo uma das maiores causas de óbitos no Brasil e a maioria dessas mortes poderia ser evitada com prevenção e tratamento adequado.
Insuficiência cardíaca e arritmias em crescimento
Entre os problemas que mais aumentaram estão as arritmias, com um crescimento de 450% nas taxas de mortalidade, e a insuficiência cardíaca, que subiu 146%. Mortes relacionadas à pressão alta também aumentaram 106%.
Essas condições são preocupantes porque tendem a ser crônicas e agravam com o envelhecimento da população, sedentarismo, obesidade, hipertensão e diabetes. A obesidade, por exemplo, aumentou de 15% para 40% da população nos EUA entre 1970 e 2022, e a hipertensão quase dobrou.
“Hoje, muitas pessoas sobrevivem a infartos, mas depois desenvolvem outras doenças cardíacas. Precisamos encarar essa realidade com urgência”, destaca a médica Latha Palaniappan, coautora do estudo.
Prevenção é essencial
Os especialistas enfatizam que a prevenção das doenças cardíacas crônicas deve começar cedo, idealmente na infância. A American Heart Association recomenda uma alimentação saudável, exercícios regulares, abandono do tabaco, controle da pressão arterial, colesterol, peso e glicemia, além de um sono reparador.
“Conquistamos importantes vitórias contra o infarto, mas a luta contra as doenças do coração continua. O futuro da cardiologia está em ajudar as pessoas a envelhecerem com corações saudáveis”, conclui Sara King.