VICTORIA AZEVEDO E RAPHAEL DI CUNTO
FOLHAPRESS
Integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), parlamentares da oposição e até aliados do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmam que foram surpreendidos com a decisão de Motta de colocar em pauta o PDL que anula o novo decreto do IOF, imposto sobre operações financeiras, publicado pelo Executivo no início do mês.
De acordo com relatos de dois líderes governistas e um assistente de Lula, ninguém do governo foi avisado antes sobre essa decisão; eles tomaram conhecimento pela publicação no X, antigo Twitter, do presidente da Câmara na noite de terça-feira (24). Motta declarou que o assunto será discutido no plenário nesta quarta-feira (25).
O líder do governo, José Guimarães (PT-CE), havia se reunido com Motta no dia anterior e não foi informado da decisão. Nem mesmo a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais), responsável pela articulação política do governo com o Congresso, foi comunicada.
Na manhã de quarta, Gleisi convocou uma reunião no Palácio do Planalto com os líderes da base aliada para tratar do assunto. Segundo relatos, a ministra buscava entender qual será a posição de cada partido em relação à votação.
No último dia 16, a Câmara já havia aprovado o pedido de urgência do PDL por ampla maioria: 346 votos a favor e 97 contrários (eram necessários 257 dos 513 para aprovar a urgência). Governistas reconhecem que há votos suficientes para derrubar o decreto se for colocado em votação.
A reportagem apurou que pelo menos três líderes solicitaram a Motta que convocasse uma reunião com as lideranças da Câmara antes da sessão do plenário para discutir o tema, mas receberam a negativa do presidente da Casa.
Segundo relatos de participantes, o clima era de surpresa pela decisão de Motta. Conforme um deles, todos estão confusos sobre os motivos da decisão — se se trata de alguma questão específica ou se é uma demonstração da insatisfação dos parlamentares com o governo federal. Nas últimas semanas, aumentaram as reclamações da cúpula do Congresso com o Executivo, especialmente devido ao atraso no pagamento das emendas parlamentares.
Outro líder da Câmara comenta que Motta sinaliza aos deputados com esse ato e tenta testar a força contra o governo federal.
Agora, a tática, segundo um governista, será travar a disputa política em torno do assunto, argumentando que o governo defende justiça social ao propor que os mais ricos e grandes empresas contribuam com mais impostos para financiar políticas públicas — argumento que tem sido usado pelos governistas recentemente.