No caso do Museu Nacional da República, alguns pontos foram lixados e pintados na tentativa de apagar os sinais de vandalismo
Escritas e pinturas nas paredes eram usadas como meio de expressão na Idade da Pedra. Porém, nos tempos modernos, vândalos parecem se apropriar da prática milenar para sujar espaços públicos. Nem mesmo os monumentos históricos situados no centro da capital conseguem se ver livres das pichações.
Alguns dos alvos mais visados se localizam na Esplanada dos Ministérios. Na Biblioteca Nacional, não é necessário muito esforço para encontrar os rabiscos nas paredes. Há desde manifestações políticas a palavras sem sentido.
O economista Rodolfo Castro, 36 anos, costuma frequentar o espaço no horário de almoço e aponta a falta de manutenção como uma das principais causas da prática: “Isso é degradante. É injustificável uma construção tão nova e no meio da cidade estar nessas condições”.
A estudante Letícia Reis, 17 anos, também desaprova a atitude. “É vandalismo. Não é nada bonito de se ver e, com certeza, isso não pode ser considerado arte. Não sei o que se passa na cabeça dessas pessoas, mas deveriam ser aplicadas punições mais severas a elas”, opina.
Problema recorrente
No Teatro Nacional Cláudio Santoro, a situação é a mesma. Há pichações nas laterais extremas do prédio e em um dos lados das entradas subterrâneas. Ao que tudo indica, a pichação é um problema recorrente, pois, em algumas áreas, nem mesmo uma nova pintura foi feita e lá estava a pichação por cima novamente.
No caso do Museu Nacional da República, alguns pontos foram lixados e pintados na tentativa de apagar os sinais de vandalismo. Ainda assim, a cobertura não foi feita totalmente e algumas áreas deixam a pichação à mostra, como cartão de visitas.
O motorista Gildo de Araújo Silva, 37 anos, morador de João Pessoa (PB), estava de passagem, conhecendo os pontos turísticos de Brasília. Ele se assustou ao se deparar com as marcas. “Isso prejudica a imagem. Deveriam refazer a pintura e colocar mais gente para vigiar. Claro que também deveriam aumentar a punição, porque, com o que vemos aqui, sabemos que estão acostumados a não serem pegos”.
Vigilantes insuficientes para a área
Um dos vigias do Museu Nacional , Alan Vieira, 46 anos, relata que a equipe não possui efetivo suficiente para vigiar a área. Antes, eram 12 vigilantes, e agora restaram seis para o revezamento diário e noturno. “Isso não tem jeito. Mas, se não fosse a gente, com certeza estaria bem pior. Principalmente à noite, quando o fluxo de frequentadores aumenta. Sabemos que se trata de uma área de lazer, mas o desrespeito também é grande. É perigoso até para a gente. Tem dia que tem até mendigo tomando banho no espelho d’água. Precisamos de mais gente para cobrir todo o local”, aponta.
As pilastras da Ponte JK também não ficam de fora. Para a professora de Antropologia da Universidade de Brasília (Unb), Lia Zanotta, ao realizar esse ato, o pichador busca visibilidade: “Se a pichação é feita em uma edificação histórica, a relevância passa a ser muito maior para ele, já que mais pessoas a verão. O que os motiva também é a adrenalina, o fato de poder fazer sua marca rapidamente e cometer uma transgressão sem ser percebido. Evidentemente, acima de tudo, é uma falta de respeito com a cidade”, finaliza.
Segundo a Novacap, a limpeza das pichações em locais públicos é feita sob demanda dos órgãos responsáveis pelos monumentos. A empresa possui uma equipe especializada na limpeza de áreas públicas. Entretanto, o órgão afirma que não fez nos últimos meses nenhuma ação de limpeza de pichações nas áreas citadas.
Governo diz que há prevenção
Procurados, as secretarias de Segurança e de Cultura e o Serviço de Limpeza Urbana enviaram ao JBr. uma nota conjunta. O texto esclarece que a equipe de vigilância terceirizada faz constantes rondas a fim de evitar as práticas de vandalismo nos equipamentos culturais.
A Secretaria de Cultura informa contar também com o apoio da Polícia Militar, que mantém uma viatura estacionada todos os dias na praça para coibir esses episódios, além de fazer rondas constantes. “À medida em que a Secretaria de Cultura detecta as pichações, são providenciadas novas pinturas nos locais afetados”, garante o governo.
A Segurança informa ainda que mantém o Picasso não Pichava, programa de conscientização voltado para pichações.
Segundo o governo, os atos de vandalismo ocorrem, geralmente, à noite e de forma velada. Há também casos de denúncias feitas pela população. Quando há flagrante, os autores e os materiais utilizados são encaminhados à delegacia.
Pichação é considerada uma contravenção penal, prevista na Lei do Crimes Ambientais. Quem comete a prática incorre na pena de detenção de três meses a um ano e multa. Se a pichação for em monumentos tombados, como patrimônio artístico ou histórico, a pena mínima de detenção é aumentada para seis meses, e a máxima permanece um ano, além de multa.
Pichação x Grafite
A origem da palavra “pichação” guarda estreita relação com o uso de mensagens escritas. Logo, pichação é a utilização de escrita de qualquer espécie (tinta ou relevo) para veicular mensagens ou palavras em paredes ou qualquer fachada, seja com finalidade de protesto, ou não. Geralmente, são mensagens diretas desprovidas de caráter artístico.
Já o grafite é uma forma de expressão artístico-visual que utiliza um conjunto de palavras e/ou imagens a fim de transmitir uma mensagem de reflexão. O grafite, em razão da conotação artística, não é um ato de vandalismo.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília