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quarta-feira, 18/06/2025




Mercado dividido sobre fim da alta da Selic, mas espera consenso do Copom

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NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O mercado financeiro está dividido sobre o término do ciclo de aumento da taxa básica de juros – a Selic – nesta quarta-feira (18), mas aguarda uma decisão unânime do Copom (Comitê de Política Monetária), temendo que um desacordo possa atrapalhar a convergência da inflação à meta.

Enquanto parte dos economistas acredita que a Selic permanecerá no patamar atual de 14,75% ao ano, outra parcela prevê um aumento adicional de 0,25 ponto percentual, elevando a taxa para 15% ao ano – o maior índice desde julho de 2006. Nas últimas semanas, observou-se grande volatilidade na precificação baseada na curva de juros.

Das 32 instituições consultadas pela Bloomberg, 12 esperam que a Selic suba 0,25 ponto percentual para 15% ao ano na reunião desta quarta-feira. As outras 20 – incluindo Bradesco, XP e Itaú – apostam na manutenção da taxa em 14,75%.

A expectativa por uma decisão consensual do comitê, apesar das divergências entre os agentes econômicos, remete aos danos à reputação causados pelo conflito entre membros do Banco Central em maio do ano passado.

Nesse episódio, o Copom reduziu o ritmo dos cortes da Selic com oposição de todos os diretores indicados pelo governo Lula (PT), em uma votação apertada de 5 a 4, colocando em questão a credibilidade e a autonomia da autoridade monetária. Desde então, todas as votações do Copom foram unânimes.

Sérgio Werlang, ex-diretor do BC, acredita que há grande probabilidade de o Copom interromper o ciclo de alta de juros nesta quarta, considerando que a atividade econômica já indica uma desaceleração e os últimos dados de inflação mostram um leve alívio.

A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou para 0,26% em maio, abaixo das previsões, com queda nos preços de alimentos, passagens aéreas e gasolina.

Werlang avalia que o impacto de um aumento de 0,25 ponto percentual seria pouco expressivo, e que continuar elevando os juros teria efeito limitado diante da política fiscal expansionista adotada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ele, que atualmente é assessor na presidência da FGV (Fundação Getulio Vargas) e professor na EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças), lembra que o Copom já havia sinalizado uma pausa no ciclo mesmo projetando para 2026 a inflação em 3,6%, acima do centro da meta de 3%.

“Esse foi um sinal importante de que, num cenário em que o governo federal gasta excessivamente, estimulando a economia e aumentando a dívida, é difícil fazer a inflação convergir para a meta de 3% em um ano e meio”, diz Werlang.

Ele acredita que a Selic deve permanecer estável por um período longo, até que os efeitos da política monetária sejam plenamente sentidos na economia. “Manter os juros elevados pelo menos até o final do ano não seria surpresa”, afirma.

Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, observa que houve melhora no cenário econômico desde a última reunião, com destaque para a inflação mais controlada, câmbio mais estável e estabilização nas expectativas.

Na última reunião, o dólar considerado pelo comitê para projeções era R$ 5,70. Nesta segunda-feira (16), a moeda fechou cotada a R$ 5,487, abaixo de R$ 5,50 pela primeira vez desde outubro.

“Não seria surpresa um aumento de 0,25 ponto percentual, mas entendemos que não é necessário”, afirma. “O BC não precisa de uma convergência clara para parar de subir os juros, essas sinalizações já bastam.”

Vitória espera que o Copom tenha cautela na comunicação, buscando uma mensagem consensual para evitar ruídos e que adote um tom firme para afastar expectativas prematuras de cortes de juros até que o cenário econômico esteja mais claro.

Ela vê possibilidade de corte da Selic em dezembro, caso não haja novas surpresas fiscais.

“Qualquer estímulo à demanda agora pode comprometer a trajetória da inflação. Achamos possível corte no final do ano, desde que o governo não acelere os gastos”, declara.

Fábio Kanczuk, ex-diretor do BC e diretor de macroeconomia do ASA, prevê um aumento de 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira.

Para ele, o principal benefício seria o impacto na curva de juros, com o mercado descartando uma redução antecipada e considerando a possibilidade de o Copom continuar elevando os juros.

O economista ressalta que são os juros de mercado para prazos entre um e dois anos que influenciam decisões sobre empréstimos e investimentos.

Outra alternativa para o mesmo efeito seria uma sinalização futura firme (forward guidance), que pode ter perda reputacional se não cumprida, gerando impacto significativo na curva de juros.

No entanto, Kanczuk acredita que o Copom prefere manter liberdade de ação e evitar compromissos rígidos, o que indica a possibilidade de cortes futuros.

Ele espera que o Copom aguarde o Fed (Federal Reserve) começar a flexibilizar os juros e siga essa direção na próxima reunião, entre o final deste ano e início do próximo.

Segundo Kanczuk, a opinião dos economistas influenciou o discurso do Copom, que agora apresenta menos posições fixas e está mais aberto a escutar, um estilo que ele considera positivo.




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