Esclarecimento da companhia do governo responsável pela ferramenta foi feito ao TSE e outros órgãos. Terceirizada de telecomunicações disse que houve criação clandestina de usuário chamado ‘presidente_bolsonaro_mais_uma_vaz’.
As mensagens com apoio ao presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e ameaça ao Supremo Tribunal Federal (STF), enviadas por meio de uma plataforma de inteligência artificial do Governo do Paraná no sábado (23) e domingo (24), foram disparadas 324.818 vezes, conforme ofícios apresentados pela Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar).
Os esclarecimentos da companhia foram encaminhados em 24 de setembro ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PR), Procuradoria-Geral Eleitoral e Procuradoria-Geral de Justiça. A informação também consta em boletim de ocorrência na Polícia Civil (PC-PR).
O g1 e a RPC tiveram acesso aos documentos na íntegra. A PC-PR disse que instaurou inquérito para investigar o caso.
No primeiro ofício encaminhado aos órgãos, a Celepar disse que, tão logo tomou conhecimento dos disparos, desativou todas as funcionalidades de envio de SMS de suas aplicações.
Afirmou, também, que identificou a criação de uma conta clandestina nomeada “presidente_bolsonaro_mais_uma_vaz” [SIC] na plataforma da operadora de telecomunicações e terceirizada do governo, Algar Telecom. Leia mais abaixo.
“A Celepar não criou e não autorizou a criação da referida conta, a qual foi criada clandestinamente. A Celepar analisou os seus registros de acesso à internet e identificou que não houve acesso à plataforma da contratada ‘Algar Soluções em TIC S/A’ a partir da rede da Celepar nas datas e horas utilizadas para criação do ID e para o disparo das mensagens.”
Nos ofícios, a companhia também solicitou aos órgãos pertinentes que sejam “tomadas as medidas cabíveis para apuração de possível crime eleitoral, bem como sua autoria”.
Os disparos aconteceram no final da noite de sexta-feira (23), para base de usuários da ferramenta Paraná Inteligência Artificial (PIÁ), ferramenta de comunicação do governo estadual.
No sábado (24), o governo do estado e a Celepar repudiaram a atitude, registraram boletim de ocorrência e disseram ter sido vítimas de um crime. Relembre ao final da reportagem.
No segundo ofício ao TSE, a Celepar reforçou a interrupção dos envios pelo número 28523.
“A Celepar analisou seus registros de acesso à internet e identificou que não houve acesso à plataforma da contratada [Algar] a partir da rede da Celepar nas datas e horas utilizadas para disparo das mensagens, restando evidente que a Celepar em absolutamente nada contribuiu para a ocorrência do ilícito.”
Em ofício à Celepar, no dia 24, a Algar disse “que houve acesso indevido à parte da base de dados do sistema utilizado para o envio e recebimento de mensagens, por meio do uso de credenciais válidas vinculadas à Celepar”.
Usuários recebem SMS de inteligência artificial do Governo do Paraná com apoio a Bolsonaro e ameaça ao STF — Foto: Reprodução/Foto Autorizada
Usuário em apoio ao presidente
Em ofício ao TSE, a Algar também detalhou que todos os disparos foram feitos por dois usuários diferentes, a partir de um único endereço de IP.
A empresa também reportou a criação clandestina de um usuário com apoio ao presidente dois dias antes dos disparos clandestinos serem registrados.
Segundo a empresa, em 21 de setembro, um cadastro realizou a troca de senha de um perfil administrador do sistema. A alteração foi feita às 23h09.
Também no dia 21, às 23h27, um usuário com permissão de administrador criou o usuário presidente_bolsonaro_mais_uma_vaz.
No dia 23, dois dias depois, a empresa identificou três disparos de mensagens por dois usuários: às 20h25, 20h37 e 21h33.
Na madrugada do dia 24, à 0h41, a empresa identificou o último disparo de mensagens.
“A fim de mitigar as consequências do ocorrido, a Algar Telecom informa que os usuários foram inativados e nova mensagem de retificação será enviada aos destinatários da primeira”, disse a empresa no documento.
Celepar, Algar e governo negam crime
Desde o momento em que os disparos em massa se tornaram públicos, o governo do Paraná, a Celepar e a Algar Telecom negaram crime.
Em nota, a Celepar afirmou que foi vítima, junto ao governo estadual, do disparo.
“O caso é grave e os responsáveis serão penalizados na forma da lei. Os órgãos policiais e eleitorais já foram acionados em todas as esferas e os boletins de ocorrência realizados para fins de investigação. […] A Celepar e o Governo do Estado foram vítimas desse crime.”
A RPC apurou que o contrato entre o governo e a Algar tem valor superior a R$ 4 milhões e prevê pagamento de R$ 0,0412 por SMS. A validade é agosto de 2024.