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domingo, 28/12/2025

Livro revela década de medo no DF com estuprador ‘Jack da Bike’

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Durante quase dez anos, andar pelas ruas do Gama, de Santa Maria e de cidades próximas ao Distrito Federal deixou de ser algo comum para muitas mulheres. Entre 2002 e 2011, um criminoso em série espalhou pavor, agressão e silêncio em áreas populares da capital federal.

Conhecido no meio policial como “Jack da Bike”, o agressor atacava durante a madrugada, surgia nas sombras e desaparecia rapidamente, quase sempre utilizando uma bicicleta. Agora, esse período sombrio é retratado em detalhes inéditos com o lançamento do livro Linha de Frente: Crimes Reais do DF – O Caso do “Jack da Bike” e Outras Histórias.

A obra publicada pela Editora Dialética, foi escrita pelo delegado e professor Sérgio Bautzer, que atua na Polícia Civil do Distrito Federal há vinte anos. O livro explora os bastidores da investigação que levou à prisão de Cléber de Jesus Rodrigues, apontado como o maior estuprador em série do DF, responsável por pelo menos 75 crimes sexuais, sendo 60 na capital e 15 em municípios goianos da região.

Rastro de agressões

Cléber de Jesus Rodrigues foi preso em agosto de 2011, aos 28 anos. Atualmente, com 42 anos, cumpre pena no Complexo Penitenciário da Papuda, condenado a mais de 100 anos de prisão. Mesmo após a condenação, novos crimes foram confirmados recentemente, graças a análises do Banco Nacional de DNA, que ligaram material genético dele a casos antigos ainda não identificados.

A investigação formal começou em 2006, quando policiais da 14ª Delegacia de Polícia (Gama) notaram um aumento alarmante nos casos de crimes sexuais. O padrão era o mesmo: mulheres jovens, entre 18 e 25 anos, abordadas à força por um homem armado, geralmente vestindo casaco com capuz, altura aproximada de 1,75m, pele negra, comportamento frio e extremo uso de violência. Quatro das vítimas eram virgens.

O criminoso agia principalmente após as 23h, circulando por festas, bares e boates. Muitas abordagens ocorreram antes do amanhecer, por volta das 5h. A vítima podia estar sozinha ou acompanhada. Em um dos episódios mais chocantes, ele chegou a violentar três mulheres na mesma ocasião.

A bicicleta era seu meio de transporte, permitindo deslocamento rápido e silencioso. Isso ajudava o agressor a escolher vítimas no Setor Leste do Gama e levá-las a locais mais isolados do Setor Sul, próximo à DF-290, na saída da cidade. Essa característica deu origem ao apelido “Jack da Bike”. No jargão policial, “Jack” é o termo para estupradores.

Bastidores da investigação

No livro Linha de Frente, Sérgio Bautzer detalha a perseguição ao criminoso. Com linguagem clara, rigor técnico e sensibilidade, o delegado revela erros iniciais da polícia, dificuldades na integração de dados, impacto psicológico nos agentes e os avanços que permitiram unir casos aparentemente isolados.

A obra mostra como o agressor tornou-se mais perverso, alterou seu modus operandi e desafiou a polícia, explorando falhas do sistema investigativo da época. A mudança decisiva veio com o cruzamento de informações, análise comportamental e, finalmente, o uso da prova genética.

Mais do que um relato técnico, o livro demonstra o sofrimento das vítimas, o medo que tomou conta das cidades e a pressão sobre os policiais para evitar novos ataques.

Conteúdo além do caso

Embora “Jack da Bike” seja o foco, Linha de Frente reúne mais de 60 capítulos sobre crimes reais no DF, incluindo violência doméstica, feminicídios, latrocínios, fraudes, operações complexas, tragédias familiares e flagrantes que marcaram a carreira do autor.

Sérgio Bautzer também compartilha momentos pessoais: os primeiros plantões, decisões sob alta tensão, o impacto emocional da rotina policial e sua experiência como professor na Academia de Polícia. O resultado é um retrato cru e sincero da rotina de uma das polícias mais técnicas do país.

Ao iluminar um dos períodos mais difíceis da segurança pública no Distrito Federal, Linha de Frente torna-se registro histórico, reflexão sobre investigação criminal e alerta social. Destaca como falhas institucionais, silêncio social e subnotificação permitem que agressores atuem por anos.

Mais do que relato de crimes, a obra fortalece a memória das vítimas e reforça a importância da investigação qualificada, da ciência forense e da perseverança policial para que casos como o “Jack da Bike” não se repitam nem sejam esquecidos.

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