Presidente da Câmara admitiu, em entrevista ao jornalista Pedro Bial, que poderia ‘ter adjetivado melhor’ o ministro de Lula
Quase duas semanas depois, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse pela primeira vez que errou ao chamar o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de “incompetente” e “desafeto pessoal”. A afirmação ocorreu no programa “Conversa com Bial”, da TV Globo, exibido na noite de terça-feira.
— Tenho erros e acertos, não tenho problema de reconhecer o erro quando o faço. Já vinha apontando reservadamente ao governo, e ele sabe disso, que há alguns meses não funciona a articulação do governo — disse Lira, quando perguntado sobre o atrito com Padilha. — Se prestar a atenção, há um esforço muito grande da presidência da Casa, do líder do governo na Câmara, de convergir as matérias para que cheguem muito maduras ao plenário da Câmara.
Na sequência, quando o apresentador Pedro Bial comentou que, para Lira ter atacado Padilha, o ministro deve ter feito alguma coisa que desagradou o presidente da Câmara, o deputado confirma que sim. Mas negou que queira retaliar o governo com pautas-bomba ou CPIs.
— (Padilha) Fez várias. Mas vamos tratar isso com muito cuidado, muita cautela — apontou.
O chefe da Casa admitiu ainda que “podia ter adjetivado melhor” Padilha. Ao rechaçar a hipótese de retaliar o governo, Lira pediu para que o período dele à frente da Casa fosse analisado.
— Qual pauta-bomba foi plantada? Qual instabilidade para um governo ou para outro? Não há nenhum governo desde que eu cheguei à Câmara que tenha tido melhores condições para governar o país do que as dadas por nós — afirmou. — Ainda em 2022 votamos a PEC da Transição e demos ao presidente Lula a chance de ele fazer tudo que prometeu em palanque. Se não tivéssemos feito aquilo, o orçamento teria acabado em junho. O presidente Lula teve um ano de 2023 espetacular por tudo o que o Congresso fez, especialmente a Câmara dos Deputados.
Entre os projetos que andaram na Casa e fazem Lira crer que o ano foi “espetacular”, ele cita a reforma tributária, o marco de garantias, o arcabouço fiscal e a volta de programas sociais, entre outros.
— Mas tudo muito negociado, porque temos um plenário que é conservador, que é liberal, num governo progressista, e isso precisa de muita articulação o tempo todo.
Episódio que motivou as críticas de Lira a Padilha, a votação na Câmara sobre o deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco, também entrou na pauta da entrevista. Brazão teve com a prisão mantida, e o presidente da Casa negou que tenha orientado parlamentares a favor da soltura.
— Isso é uma inverdade. A gente vive esse momento de notícias rápidas, no tempo da internet. Não há um deputado na Câmara dos Deputados, e eu converso com todos eles, que diga que eu influenciei no voto, que pedi voto — alegou Lira. — Ali não estávamos a discutir se matou ou se não matou, se é traficante ou miliciano. A discussão era se havia requisitos para a prisão de um parlamentar.
Sucessão
Lira falou ainda sobre a sucessão na presidência da Casa. Antes, citava setembro como a data para iniciar de vez o processo eleitoral interno e abordar publicamente a disputa, mas agora já se fala em agosto. Apesar de ser só em fevereiro do ano que vem, a votação vem movimentando os bastidores do Legislativo.
Ainda não há martelo batido sobre quem será o candidato apoiado por Lira. Como informou a colunista Bela Megale, petistas acreditam que o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) possa ser um nome de consenso entre o governo e o atual presidente da Câmara.