Líderes da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso expressaram descontentamento com as férias do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em conversas reservadas na segunda (16/6) e terça-feira (17/6), eles reclamaram que um dos titulares das pastas mais importantes do governo se afastou justamente no meio da crise relacionada ao reajuste do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e às medidas provisórias para arrecadação.
Entre os líderes governistas, houve destaque para o fato de que eles próprios não tiraram férias durante momentos cruciais que exigiram negociações intensas entre o Planalto e o Congresso. Haddad passará uma semana afastado até o próximo domingo (22/6), tendo alterado a folga que antes estava marcada para o período de 11 a 22 de julho.
Contexto da crise
Em 23 de maio, o governo federal anunciou medidas visando o equilíbrio fiscal, apresentadas por técnicos do Ministério da Fazenda, dentre as quais destacava-se o aumento do IOF para determinadas operações. O governo previa arrecadar R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026 com a elevação das alíquotas.
Essa decisão provocou reação negativa no mercado financeiro, com o Ibovespa recuando 0,44% e o dólar subindo 0,32%. Internamente, o governo enfrentou forte crítica nas redes sociais, levando à publicação de um novo decreto que reduziu parte das mudanças.
Contudo, a situação permanecia tensa, com o Congresso recebendo mais de 20 projetos legislativos para sustar os efeitos do decreto. Em 28 de maio, Haddad reuniu-se com os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, mas o encontro não resultou em acordo, apesar das promessas do governo sobre graves impactos fiscais em caso de rejeição.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva interveio em 3 de junho, reconhecendo a falta de diálogo prévio entre Executivo e Legislativo. Uma nova rodada de negociações em 8 de junho trouxe declarações otimistas do ministro, mas Hugo Motta afirmou que o acordo para aprovação não foi alcançado. Um novo decreto foi apresentado em 11 de junho, contudo a reação continuou negativa.
Em 12 de junho, Hugo Motta anunciou que levaria ao plenário a urgência do projeto que barra os efeitos do novo decreto. A votação da urgência ocorreu em 16 de junho, sendo aprovada, permitindo que o mérito fosse analisado após o recesso do Congresso devido ao feriado de Corpus Christi e festas juninas.
Repercussões das férias de Haddad
Os líderes governistas alertam que as férias do ministro podem dificultar sua participação nas negociações decisivas durante metade do período que o governo terá para elaborar alternativas e evitar a derrubada do reajuste do IOF. O Planalto necessita arrecadar cerca de R$ 20 bilhões até o final do ano para cumprir as metas fiscais do Arcabouço Fiscal.
O impasse com o Congresso
No fim de maio, o governo anunciou o aumento do IOF para empresas, de 1,88% para 3,95% ao ano, provocando forte reação contrária no Congresso. Como resultado, o Planalto realizou reuniões com líderes parlamentares para avaliar alternativas, acertando que a Fazenda reduziria o aumento e enviaria uma Medida Provisória com cortes de gastos e outras medidas compensatórias.
Apesar do acordo, a situação política permaneceu tensa, com líderes da oposição e até da base governista exigindo a revogação do decreto, o que implicaria em bloqueios orçamentários para atingir as metas fiscais. Assim, decidiu-se que a Câmara votaria inicialmente apenas a urgência da revogação da medida.