IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O governo do Irã declarou neste sábado (21) que a possível participação dos Estados Unidos na guerra entre Israel e Teerã representa um grande perigo para todos. O presidente Donald Trump, após ameaçar eliminar o líder teocrático Ali Khamenei, estabeleceu um prazo de duas semanas para decidir sua ação.
O conflito, cuja fase atual começou com o ataque de Israel ao país persa na sexta-feira retrasada (13), prossegue em intensificação. O Estado judeu anunciou a morte do comandante militar responsável pela ligação entre Teerã e o Hamas palestino, grupo considerado terrorista e que lançou o ataque em 7 de outubro de 2023, desencadeando guerras que transformam a dinâmica no Oriente Médio.
A advertência iraniana foi feita pelo chanceler Abbas Araghchi durante uma passagem por Istambul, vindo de Genebra, onde havia participado de uma rodada inicial de conversas com nações europeias para tentar retomar as negociações nucleares com os EUA.
O impasse nessa questão foi um dos motivos alegados por Binyamin Netanyahu para iniciar seu ataque aéreo inédito e abrangente. Israel afirma que o adversário, sob pressão, poderia fabricar rapidamente 15 armas nucleares, número contestado por especialistas.
Araghchi afirmou que o retorno às negociações depende da suspensão dos bombardeios israelenses. “Seria extremamente lamentável e perigoso para todos” a interferência militar dos EUA em apoio ao aliado. Há um consenso de que o programa nuclear iraniano só pode ser eliminado completamente, inclusive com suas instalações subterrâneas ocultas, utilizando bombas que apenas o presidente Trump possui.
Posteriormente, o presidente francês, Emmanuel Macron, telefonou para seu homólogo em Teerã, Masoud Pezeshkian. Segundo Paris, ele garantiu empenho para acelerar as negociações com os três países europeus envolvidos: França, Alemanha e Reino Unido.
Esse movimento oferece mais tempo a Trump, que enfrenta resistência interna à ideia de entrar na guerra, especialmente entre seus apoiadores ideológicos, conhecidos por criticar os envolvimentos militares dos EUA em conflitos distantes. Fiel a seu estilo, o presidente declarou na sexta-feira (20) que duvidava do sucesso das iniciativas europeias.
Enquanto isso, a ofensiva aérea continua. Um ataque israelense atingiu a Guarda Revolucionária, núcleo ideológico das forças iranianas e a entidade política mais influente do país, matando ao menos cinco membros. Também foi assassinado um cientista nuclear.
Segundo Israel, um dos oficiais mortos foi Saeed Izadi, comandante do Corpo Palestina da Força Quds, unidade da guarda que coordena a estratégia iraniana com grupos palestinos em Gaza e Cisjordânia.
Ele é visto por Israel como um dos principais responsáveis pelos planos que culminaram no ataque de 7 de outubro. Embora o apoio iraniano às estratégias para destruir o Estado judaico fosse conhecido, não há dados claros se o Hamas agiu por conta própria ou por ordem de Teerã no massacre de 1.200 civis israelenses.
Em Tel Aviv, o anúncio causou celebração. “Foi uma grande vitória para a inteligência e a Força Aérea israelenses”, afirmou o ministro da Defesa, Israel Katz, que confirmou a morte de outro comandante encarregado dos contatos com o Hezbollah no Líbano.
Há sempre muita incerteza nas informações vindas de ambos os lados. Tanto Israel quanto a mídia iraniana chegaram a afirmar que Ali Shamkhani, braço direito de Khamenei, havia morrido no ataque. No sábado, uma mensagem atribuída a ele foi veiculada na TV estatal, onde ele garante estar vivo para continuar sendo a razão da hostilidade do inimigo.
Houve ainda outros ataques durante a madrugada e no decorrer do sábado, contra alvos de infraestrutura militar e nuclear na região central de Isfahan. De acordo com a agência da ONU para energia atômica, não houve registro de vazamento radioativo.
O Ministério da Saúde do Irã atualizou o balanço da guerra, apontando 430 mortos, sem distinção entre civis e militares. Uma ONG dos EUA contabiliza 639 vítimas. Em Israel, já são 24 mortos, 25 se considerar uma senhora que sofreu infarto durante um ataque na sexta-feira.
Irã mantém o lançamento de mísseis balísticos e drones, mudando de tática. Em vez de atacar exclusivamente Tel Aviv, passou a distribuir os disparos por todo o país, dificultando as defesas aéreas.
Essa estratégia tem funcionado em alguns casos, com o primeiro drone atingindo um alvo diretamente no sábado, sem causar vítimas. Segundo Israel, 40 desses aviões não tripulados foram lançados, sendo que 99% são interceptados antes de alcançar os alvos.
Um problema para Teerã é o estoque limitado de mísseis balísticos, sua ameaça mais significativa, o que indica que o uso de drones deve aumentar daqui para frente.