Iris Lustosa de Oliveira chefiou o Centro de Informações do Exército de novembro de 1983 a março de 1985. Na época, ele atuava como general, mas se aposentou como marechal e hoje tem 96 anos.
A idosa presa na semana passada no Rio por tráfico internacional de armas é irmã de um militar apontado no relatório final da Comissão Nacional da Verdade como um dos responsáveis por crimes cometidos durante a ditadura (1964-1985).
Ilma Lustosa, de 88 anos, é irmã de Iris Lustosa de Oliveira, que como general chefiou o Centro de Informações do Exército de novembro de 1983 a março de 1985.
Iris chega a ser citado em uma conversa de Ilma com o filho, João Marcelo de Oliveira Lopes, conhecido como Careca e, segundo a Polícia Federal, chefe da quadrilha.
A conversa acontece no momento em que o filho instrui a mãe a testar algumas armas. Em seguida, ele envia uma foto da mãe portando fuzis e, em tom de ironia diz que vai viralizar.
“Vou botar na internet, irmã do general Iris Lustoza!”, brinca. “Não faça isso não, Marcelo, porque o nome do Iris está sendo procurado”, pede Ilma.
Iris tem hoje 96 anos e se aposentou como marechal. Além do irmão, Ilma tem mais 3 irmãs. O pai deles era militar. Iris.
Ilma foi presa na Operação Florida Heat, na terça-feira (15) passada. Segundo as investigações, ela utilizava a casa onde mora, em Vila Isabel, na Zona Norte, como entreposto das armas e da munição contrabandeadas pelo filho, João Marcelo, o Careca, dos Estados Unidos.
Um dos clientes de Careca era Ronnie Lessa, preso pela morte de Marielle Franco.
Ronnie fez Ilma de escudo
A PF afirma que Careca chefiava o esquema, que contava com sofisticadas máquinas de acabamento de peças e vendia o armamento para traficantes, milicianos e matadores de aluguel.
O Fantástico obteve informações, áudios e imagens exclusivas da Operação Florida Heat. Em um dos áudios, Ilma reconhece Ronnie Lessa em mensagem para o filho dois dias após a prisão do acusado, em 2019.
Ilma: “Marcelo, esse Ronnie Lessa foi o que esteve aqui em casa, que me pegou pelo pescoço e me botou na frente dele pra sair aqui de casa, não foi? Agora que eu tô conhecendo ele”.
Depois de ter ouvido o áudio, Careca confirmou a identidade do homem e pediu para a mãe apagar a mensagem. Ela, na verdade, respondeu com outra gravação, e eles seguiram a conversa:
Ilma: “Ah, meu filho, quando é que você vem aqui? Dá um jeito de vir…
Careca: “Não, agora quem não quer ir aí sou eu, mãe. Depois dessa bomba aí… Não vou agora, não. (…) O lugar que eu menos quero ir agora é aí.”
Careca foi monitorado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público por mais de dois anos, em parceria com um departamento da polícia americana que apura crimes transnacionais. Ele tinha dois comparsas nos Estados Unidos: Teodoro Giovan e Tássio, que são irmãos.
Os três têm cidadania americana e foram notificados dos mandados de prisão. Vão responder em liberdade, pelas leis dos EUA, mas serão presos se viajarem ao exterior — seus nomes estão na Difusão Vermelha da Interpol, a lista dos mais procurados no mundo.
A Polícia Federal afirma que o esquema de tráfico internacional de armas abasteceu traficantes, milicianos e matadores de aluguel no país, principalmente no Rio, por pelo menos seis anos.
A reportagem conversou com a defesa de Ronnie Lessa, mas seu advogado disse que não tem como se manifestar, porque não teve “contato com qualquer elemento da investigação”.
O advogado de Ilma Lustosa negou qualquer envolvimento dela com o esquema de tráfico de armas.