Adolescentes com diabetes que finalizaram o acompanhamento no Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) participaram de uma celebração especial. Esta cerimônia marcou a transição dos jovens para o atendimento adulto, reunindo pacientes e seus familiares para compartilharem experiências. O evento ocorreu na segunda-feira (10) e foi realizado em homenagem ao Dia Mundial do Diabetes, celebrado em 14 de novembro, data estabelecida pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O HCB é responsável pelo tratamento de crianças e adolescentes com diabetes mellitus tipo 1 na rede pública de saúde do Distrito Federal. Esta forma de diabetes ocorre quando o corpo não produz insulina, pois o sistema imunológico ataca as células responsáveis por esse hormônio. A endocrinologista pediátrica do HCB, Paola Brugnera, explica que a predisposição pode existir desde o nascimento, mas o diagnóstico pode aparecer em qualquer idade, sendo mais comum na infância.
Desde 2011, o programa de diabetes do Hospital vai além das consultas, oferecendo grupos de apoio, palestras e aulas sobre o controle alimentar. A equipe multidisciplinar trabalha para melhorar a qualidade de vida e ensinar os pacientes a cuidarem de si mesmos. Segundo Brugnera, a educação continuada é fundamental, pois a diabetes é uma condição crônica que exige decisões diárias.
Atualmente, cerca de 370 pacientes estão em tratamento no HCB. Por conta do perfil pediátrico da unidade, a transição para o atendimento adulto começa por volta dos 17 anos, avaliada por uma equipe composta por endocrinologista, enfermeiro, psicólogo e nutricionista. A transferência é coordenada pela Secretaria de Saúde (SES-DF) e direciona cada paciente para a unidade mais próxima de sua residência.
Marcella Santos, 19 anos, é uma das jovens que concluíram o acompanhamento no Hospital da Criança de Brasília. “Fui tratada aqui desde o início; já fiz a transição e estou indo para minha quarta consulta na clínica adulta, na Policlínica da Ceilândia”, conta ela. Recordando sua trajetória no HCB, Marcella destaca o apoio da equipe e como foi incentivada a participar do cuidado e das decisões do seu tratamento. Ela relata uma situação em que decidiu, junto com a médica, ficar internada para tratar uma complicação nos rins.
Marcella acredita que essa relação próxima com a doença a ajudou a encará-la de forma positiva: “Sempre aprendi que a diabetes e eu somos uma coisa só; somos eu e a ‘Betinha’ e vamos conviver para sempre. Eu podia escolher ter um relacionamento ruim e não viver bem, ou aprender a conviver com ela.”
Atenção aos sinais
O diabetes tipo 1 costuma se manifestar na infância. Os pais devem observar sintomas como sede excessiva, urina frequente, principalmente à noite, infecções repetidas ou perda de peso mesmo com alimentação normal. Ao notar esses sinais, é importante procurar um médico para diagnóstico e início do tratamento. Brugnera alerta que, sem diagnóstico precoce, a criança pode apresentar vômitos, dor abdominal e desidratação.
A médica explica que a insulina é essencial para transformar o alimento em energia: “Sem insulina, o açúcar permanece no sangue e não entra nas células para gerar energia. A falta de insulina é incompatível com a vida.”
Vida normal com tratamento
Na formatura, adolescentes e familiares participaram de atividades que mostraram que é possível ter uma vida plena seguindo o tratamento. Victor Ferreira, 17 anos, ainda em atendimento no HCB, diz que aprendeu a não ter vergonha da diabetes e a entender tanto o lado emocional quanto o técnico do cuidado. Ele aconselhou os colegas a verem a diabetes como uma oportunidade de crescimento pessoal.
A enfermeira de educação continuada do HCB, Bruna Ferreira, que foi diagnosticada ainda criança, compartilhou sua experiência para inspirar os jovens. Ela demonstrou que é possível estudar, trabalhar e viajar, desde que se siga corretamente o uso da insulina e uma alimentação saudável.
Foram realizados também dois momentos de conversa: um para as mães trocarem experiências sobre os cuidados e outro para os adolescentes falarem sobre as expectativas e medos ao deixar o atendimento infantil. Os relatos de jovens que já passaram por essa etapa, como Marcella Santos, trouxeram conforto e incentivo. Marcella ressaltou que a diabetes não a impede de aproveitar festas e acampamentos e que, com responsabilidade, se prepara para novos desafios, como o vestibular e a carreira.
*Informações fornecidas pelo Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB)

