Há mais de duas décadas, Israel acusa o Irã de buscar a fabricação de armas nucleares, considerando isso um perigo existencial para sua segurança. Essa acusação tem sido usada para justificar ações militares israelenses com consequências incertas.
Mas qual é a origem do programa nuclear iraniano e por que as potências ocidentais questionam o Irã, enquanto Israel, o único país do Oriente Médio que não assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), não enfrenta esse tipo de cobrança?
Segundo especialistas em geopolítica consultados pela Agência Brasil, o conflito visa enfraquecer o Irã militar e economicamente para garantir a hegemonia de Israel na região. Eles levantam a possibilidade de manipulação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) ao afirmar que o Irã descumpre suas obrigações no TNP.
Diferente de Israel, o Irã sempre permitiu inspeções internacionais ao seu programa nuclear. Em 2012, com mediação do Brasil, o Irã aceitou proposta dos EUA para controle do enriquecimento do urânio, mas o presidente Barack Obama abandonou o acordo, mantendo sanções contra Teerã.
Luiz Alberto Moniz Bandeira, historiador da Universidade de Brasília (UnB), afirmou em 2013 que a ameaça nuclear iraniana é um pretexto para esconder disputas de poder na região. Ali Ramos, cientista político, concorda e destaca que Israel deseja impedir que qualquer vizinho tenha poder econômico e militar suficiente para desafiar sua hegemonia, mantendo-os enfraquecidos.
Robson Valdez, especialista em relações internacionais, observa que a AIEA pode estar sendo usada para justificar a agressão contra o Irã, com o objetivo de garantir superioridade militar israelense na área.
Origem do programa nuclear
Moniz Bandeira relata que o programa começou nos anos 1960 com apoio dos EUA e Alemanha durante o governo do xá Reza Pahlavi. Após a revolução iraniana de 1979, liderada pelo aiatolá Khomeini, que proibiu armas nucleares por princípios islâmicos, o programa foi retomado somente em 1989 pelo aiatolá Ali Khamenei, que sempre negou intenção bélica.
Para especialistas, o programa tem finalidade energética e industrial, simbolizando a afirmação da soberania persa contra influência ocidental.
Negociações diplomáticas e acordos
Em 2012, Brasil e Turquia ajudaram a negociar um acordo para o Irã transferir urânio pouco enriquecido para controle externo, mas os EUA, liderados por Obama, desistiram do compromisso. Celso Amorim, então ministro brasileiro das Relações Exteriores, participou das negociações.
Moniz Bandeira critica a estratégia americana de manter sanções para fragilizar o regime xiita. Robson Valdez aponta que a rejeição americana se deveu ao protagonismo de Brasil e Turquia, países médios, no acordo.
Em 2015, o Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA) foi firmado para restringir o programa nuclear iraniano em troca do alívio das sanções, contando com o apoio das grandes potências do Conselho de Segurança da ONU, além da Alemanha.
Israel boicotou o acordo com lobby intenso nos EUA e Europa. Em 2018, o governo Trump retirou unilateralmente os EUA do pacto, reimpondo sanções e elevando tensões na região.
Atualidade e tensões recentes
No governo Biden, as negociações continuam, mas foram interrompidas após ataques israelenses ao Irã e denúncias de cumplicidade americana. A AIEA aprovou resolução que questiona o cumprimento iraniano do TNP, decisão classificada pelo Irã como politicamente motivada.
Ali Ramos destaca que as inspeções sempre ocorreram regularmente, mas houve mudança na AIEA após sinais israelenses de ataque. Ele alerta para o uso de organismos multilaterais para interesses de Israel e EUA.
Esse conflito reflete uma crise profunda na ordem internacional e na segurança do Oriente Médio.