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sábado, 28/06/2025




França rejeita o cigarro e protege as crianças

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Brigitte Bardot relaxava descalça em uma praia de Saint-Tropez, fumando seu cigarro lentamente. Outro ator famoso, Jean-Paul Belmondo, caminhava pela Champs-Élysées exalando fumaça, simbolizando a rebeldia jovem de sua época.

Na França, o cigarro sempre foi muito mais que um simples objeto — representava um símbolo no cinema, um sinal de charme e de desafio às normas.

Contudo, a partir de 1º de julho, se essas cenas clássicas fossem repetidas hoje, poderiam render multas de até 135 euros.

Depois de décadas de uma relação quase romântica com o tabaco, a França implementa sua proibição mais rigorosa, anunciada pela ministra da Saúde, Catherine Vautrin. Será proibido fumar em quase todos os espaços públicos onde crianças possam estar, como praias, parques, praças de jogos, áreas esportivas, em frente às escolas e pontos de ônibus.

“O cigarro deve sumir onde houver crianças”, declarou Vautrin. A liberdade de fumar termina onde começa o direito das crianças de respirar ar puro.

Essa nova lei não apenas busca proteger a saúde pública, ela também marca uma grande mudança cultural em um país cuja relação com o fumo é complexa e enraizada.

Segundo a Liga Francesa Contra o Câncer, mais de 90% dos filmes franceses exibem cenas com cigarros, mais do que o dobro da média americana. O hábito está presente inclusive em filmes clássicos, associando o tabaco com rebeldia e sensualidade.

Porém, esse glamour tem seu preço: cerca de 75 mil pessoas morrem anualmente na França por doenças ligadas ao tabaco. Embora o número de fumantes diários esteja diminuindo e seja agora menos de 25% dos adultos, o vício ainda é forte, especialmente entre jovens e na elite urbana.

A relação da França com o cigarro é cheia de contradições. Por exemplo, a Air France só proibiu fumar em seus voos em 2000, anos após a maioria das companhias americanas terem adotado a proibição.

Moradores do bairro moderno de Le Marais em Paris apresentam opiniões diversas sobre essa nova norma. Clémence Laurent, uma jovem compradora de moda, apoia a medida para proteger as crianças, reconhecendo que a imagem glamourosa do tabaco nos filmes não deve influenciar as gerações atuais.

Já figuras como o vendedor de artigos vintage Luc Baudry enxergam a proibição como uma perda cultural, enquanto a senhora Jeanne Lévy, fumante de longa data, lembra com carinho das influências artísticas que o tabaco teve em sua vida.

O cinema contribuiu para a imagem poética do fumo, com personalidades como Jeanne Moreau emprestando uma aura de sensualidade e profundidade à prática.

A nova legislação acompanha tendências semelhantes em outros países europeus, que também têm endurecido as regras para locais públicos, protegendo os mais jovens da exposição ao tabaco.

Nas ruas de Paris, a geração mais jovem busca alternativas como os cigarros eletrônicos, que ainda permanecem fora do alcance das leis atuais, oferecendo um meio-termo menos nocivo, ainda que menos glamouroso.




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