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quinta-feira, 26/06/2025




Financiamento domina as negociações finais da pré-COP30 na Alemanha

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GIULIANA MIRANDA
Bonn, Alemanha (Folhapress) – Mesmo com os esforços da diplomacia brasileira para impulsionar temas-chave para a COP30, que será realizada em Belém em novembro, a fase final das reuniões climáticas de junho, um tipo de pré-COP focada em negociações técnicas, foi marcada por um tema que, em tese, deveria estar superado desde a conferência do ano passado: o financiamento climático.

Na COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, os países definiram uma nova meta para os recursos financeiros, mas o montante e a origem desses fundos ainda geram tensões entre nações ricas e em desenvolvimento.

Durante as reuniões técnicas em Bonn, na Alemanha, que vão até esta quinta-feira (26), o financiamento tem sido um tema recorrente, causando impasses em quase todas as negociações. Diplomatas e membros da sociedade civil já citam o “fantasma de Baku” assombrando as negociações da COP30 em Belém.

“Embora exista apenas uma sala dedicada especificamente a essa questão, todas as outras estão discutindo financiamento. Isso representa um estresse pós-traumático de Baku. Todos querem abordar o financiamento”, comenta Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.

Para Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, essa situação aponta para um cenário ainda mais complexo para a presidência brasileira conseguir avançar em sua agenda prioritária em Belém.

“Saímos da conferência de Bonn com a certeza de que a agenda da COP30 será mais desafiadora do que esperávamos, pois os países deixaram claro que querem discutir algo que o Brasil acreditava que poderia evitar: o financiamento climático, especialmente o financiamento público.”

Após negociações intensas em Baku, foi aprovado o Novo Objetivo Coletivo Quantificado (NCQG), que aumentou os recursos para ações climáticas de 100 bilhões para 300 bilhões de dólares anuais até 2035, visando expandir esse valor para 1,3 trilhão de dólares, mobilizando fundos públicos e privados, porém sem um caminho definido.

As nações em desenvolvimento expressaram insatisfação com os valores, alegando que são insuficientes para enfrentar o desafio das mudanças climáticas. Estimativas, inclusive das Nações Unidas, apontam que serão necessários pelo menos 5 trilhões de dólares até 2030 apenas para implementar os planos climáticos existentes.

Além disso, grande parte do financiamento tem sido concedida na forma de empréstimos, muitas vezes a juros de mercado, o que agrava a situação financeira das nações em desenvolvimento que recorrem a esses recursos.

“A sombra do financiamento paira sobre as negociações e desacelera os processos. Isso justifica para muitos países a não realização de suas obrigações e impede que aqueles dispostos a agir disponham dos recursos necessários”, afirmou Mark Lutes, assessor sênior de Políticas Climáticas Globais do WWF.

Embora reconheça a relevância do financiamento, Lutes alerta que a agenda climática não deve ser paralisada devido a essa questão.

“Estamos desapontados com as entregas feitas pelas nações desenvolvidas no âmbito do NCQG. Contudo, não podemos interromper ou retardar as ações para combater as mudanças climáticas, reduzir emissões, adaptar-se e lidar com perdas e danos.”

Mais uma vez, os países ricos, que têm a responsabilidade financeira, repetem comportamentos observados em conferências anteriores e dificultam o progresso no financiamento. Com a ausência dos Estados Unidos, que já se anteciparam à saída formal do Acordo de Paris, a União Europeia tem assumido protagonismo nessa área.

Segundo Unterstell, o financiamento está sendo usado taticamente por alguns grupos para bloquear avanços em outras áreas.

“Alguns se escondem atrás da não realização das obrigações financeiras pelos países desenvolvidos e utilizam isso como justificativa para não aumentarem suas próprias ambições. Isso prejudica o planeta inteiro.”

A presidência brasileira destacou três prioridades para avançar em Bonn: a transição energética justa, os indicadores de adaptação e o diálogo sobre o balanço global, conhecido como ‘global stocktake’ (GST).

Para especialistas, os dois primeiros temas apresentam maiores chances de sucesso, mas o cenário permanece incerto no último dia da conferência.

Outro ponto de atenção para os brasileiros foi a preocupação com a logística para a conferência em Belém, especialmente o alto custo da hospedagem, um tema que mobilizou tanto delegações nacionais quanto a sociedade civil.




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