Traders se anteciparam ao movimento de alta dos juros nos Estados Unidos e já fizeram as apostas mais rentáveis, segundo instituições financeiras globais
Por Ruth Liew e Payne Lubbers
Investidores esperam ganhos para o dólar em 2022. Mas as apostas mais rentáveis podem ter terminado antes mesmo do fim de 2021.
Muitas instituições financeiras globais, como o Morgan Stanley, a Sumitomo Mitsui Trust Asset Management e o Lombard Odier, preveem um dólar mais forte em 2022, com a ressalva de que o avanço será moderado.
Isso porque operadores têm se antecipado ao Federal Reserve (o banco central americano), dando preferência à moeda das reservas mundiais em relação a praticamente todas as outras antes que os juros aumentem.
“O dólar deve se valorizar no primeiro semestre de 2022, já que o Fed provavelmente encerrará a retirada [do estímulo] em março e começará a elevar os juros em junho”, disse Naoya Oshikubo, gestor-chefe da Sumitomo, que administra cerca de US$ 740 bilhões em ativos.
O dólar pode devolver parte dos ganhos no segundo semestre, embora “ajustes sejam moderados, apenas para remover o excesso de rali relacionado às crescentes expectativas antes dos aumentos dos juros”.
Com alta superior a 5% em 2021, o índice Bloomberg Dollar Spot se encaminhava para fechar com o maior ganho em seis anos, enquanto posições de alta de fundos estão no maior nível desde 2015, segundo pesquisa do Bank of America.
Apostas compradas líquidas de hedge funds na moeda americana alcançaram o maior patamar desde junho de 2019, em antecipação ao impacto de uma política monetária mais apertada nos Estados Unidos.
É uma grande virada comparada à mesma época do ano passado, quando apostar contra o dólar era uma das estratégias com maior demanda em Wall Street.
Impulso do Fed
A hipótese de que o maior déficit americano e a ampla recuperação global iriam aumentar a demanda por ativos de outros países e enfraquecer o dólar não se concretizou. O estímulo monetário do Fed ajudou a impulsionar o rali de Wall Street que atraiu mais capital de outras partes do mundo, enquanto a maioria dos mercados emergentes definhava.
Agora, com operadores preparados para aumentos das taxas de juros, alguns sugerem que os ganhos do dólar podem desacelerar em 2022, ou que a moeda pode até cair.
“Historicamente, o dólar foi negociado com força nos seis meses anteriores a uma primeira elevação da taxa de juros nos Estados Unidos”, disse Arjun Vij, gestor de portfólio do JPMorgan Asset Management, que projeta alta do dólar contra o euro, o franco suíço e o iene. Mas, com dois a três aumentos dos juros já embutidos nos mercados, “existe a possibilidade de que o mercado de títulos tente precificar um erro de política nos Estados Unidos”.