Por mais de duas horas, empresários fizeram a Celina perguntas e pedidos referenciados, principalmente, à crise regional e à sensação de ineficácia do atual governo do DF
Os empresários perderam a paciência com Rodrigo Rollemberg e a burocracia no Distrito Federal. Críticas ácidas contra o Buriti deram o tom, ontem, do almoço do grupo empresarial Lide com a presidente da Câmara Legislativa, deputada Celina Leão. Falando sobre o que o presidente do Sinduscon, Luiz Carlos Botelho, chamou de “genocídio econômico”, empresários declararam que não vão mais esperar o governo e que estudam transferir seus empreendimentos para outras unidades da Federação.
Formado por 40 empresários de peso, o grupo desferiu golpes diretos contra o secretário de Habitação Thiago de Andrade, a demora do Executivo para a simplificação das normas de construção e a desocupação da orla do Lago Paranoá. Em praticamente todas as reclamações, a líder do Legislativo fez coro com o empresariado.
Por mais de duas horas, empresários fizeram a Celina perguntas e pedidos referenciados, principalmente, à crise regional e à sensação de ineficácia do atual governo do DF.
“Hoje Brasília e o Brasil atravessam uma fase difícil. Onde a iniciativa privada e os governos têm que estar conversando o tempo todo. Nós temos em Brasília uma burocracia atormentadora, que está inibindo os negócios e atrapalhando o desenvolvimento”, afirmou o presidente regional do Lide, o empresário Paulo Octávio.
Tempo de tolerância passou
“Eu acho que passou o tempo da tolerância com o governo”, resumiu Celina. Segundo os empresários, Rollemberg havia se comprometido a desburocratizar a máquina pública no início do governo, especialmente, em relação à construção civil. Nove meses depois, nada saiu do papel e o setor produtivo criticou sem ressalvas a pasta da Habitação e a gestão de Thiago de Andrade.
Alegando que o governo está usando o plano de desocupação da orla para ficar bem nos holofotes, empresários desferiram uma saraivada de queixas. Enquanto o GDF estabeleceu a marca de 30 metros das margens, eles afirmam que as normas vigentes impõem uma limitação muito menor, de três metros. Questionaram ainda o fato de o Buriti começar a desocupação sem ter definido um plano de uso e segurança da região.
Celina critica secretário de Habitação
Endossando as palavras dos empresários em relação aThiago de Andrade, a presidente da Câmara Legislativa disse: “Eu acho o secretário de Habitação um super técnico, mas eu acho que ele não está no tempo que Brasília precisa, na rapidez Brasília precisa. Porque, burocrata por burocrata, nós temos vários”.
Grande parte dos nós burocráticos que afligem o empresariado dependem da pasta para ser desenrolados. Nesse sentido, Celina questionou a demora que a pasta está tendo para enviar o projeto da Lei de Uso e Ocupação do Solo para Câmara (LUOS). Do ponto de vista da deputada, caso o GDF encaminhe o texto só em 2016, corre o risco de não conseguir aprová-lo até 2018, em função da polêmica da matéria.
“Eu falei com o governador sobre isso. Acho que o tempo dele (Thiago) é um tempo burocrático, diferente do tempo de Brasília. E se ele não dá conta da missão, ou pede para sair ou cumpre missão e resolve o problema”, declarou a presidente da Câmara.
Quanto a desocupação da orla, Celina comentou que é favorável à ideia, mas questionou a forma com que o GDF conduz o processo. Segundo Celina, o governo deveria ter se reunido com os moradores antes de começar as derrubadas definindo como seria o projeto ocupação das terras públicas.
Perguntada sobre qual seria a nota que daria para o governo Rollemberg, Celina se esquivou. A presidente acredita que o Buriti está acertando em áreas importantes, a exemplo da Segurança Pública.
Mas o deputado Bispo Renato (PR) também estava presente e não fez cerimônia para responder: “Nota zero”. Para a plateia empresarial, o deputado argumentou que a gestão Rollemberg se confunde com o governo de Agnelo Queiroz e repete os mesmos erros administrativos, sem conseguir alavancar o desenvolvimento do DF.
Surdez e isoporzinho
Ao longo dos últimos meses, os empresários propuseram ao governo iniciativas para desburocratizar a máquina, a exemplo de um projeto para alvarás digitais. Segundo Paulo Octávio, o DF e o Brasil precisam de “um choque de capitalismo”. Quanto à orla, a irritação dos empresários cresceu ainda mais quando tiveram conhecimento da organização de um evento na orla chamado “Isoporzinho”, com a participação de parentes de Rollemberg. Os empresários alegam que ao invés das derrubadas, o governo deveria focar esforços nas áreas abandonadas nas margens para criar parques e projetos semelhantes ao Pontão do Lago Sul.
Ponto de vista
Ex-deputado federal e empresário, Osório Adriano recorreu à história para criticar a desocupação da Orla. Osório lembrou que, no governo José Aparecido, saiu do papel um projeto de construção de ciclovias com acessos até às margens do Lago Paranoá. Nas palavras do empresário, sem as devidas medidas segurança as ciclovias trouxeram a criminalidade à região. “Aconteceu que abriram aquele espaço, não tomaram conta. Deixaram daquele jeito. Houve um crime, uma morte. Passado mais um mês, outro crime: mais uma morte. Até que desistiram das tais ciclovias”, alertou. Osório também considerou que os passos de Rollemberg se confundem com os de Agnelo. “O Rodrigo é meu amigo. Mas está faltando dele entusiasmo, dinâmica, está faltando tudo. Porque não consegue analisar projetos. Em Uberlândia e em Goiânia constroem-se prédios tirando o trabalho daqui, daqueles que moram e residem em Brasília, dos trabalhadores de Brasília. Está faltando capacidade ao meu amigo Rodrigo Rollemberg para tocar o DF”, denunciou. Foi aplaudido pelos colegas.