SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O dólar valorizou 0,48% nesta sexta-feira (20), fechando a semana cotado a R$ 5,526, em um dia com menor volume de negociações devido ao feriado prolongado de Corpus Christi no Brasil.
Por outro lado, a Bolsa teve uma queda acentuada de 1,15%, ficando em 137.115 pontos.
O mercado foi influenciado pela decisão do Banco Central (BC) na última quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic para 15% ao ano, e também pela intensificação das tensões no Oriente Médio.
O BC continuou sua trajetória de alta nos juros, com um aumento menor, de 0,25 ponto percentual. A taxa atual de 15% é a mais alta desde julho de 2006, quando a Selic estava em 15,25% ao ano.
Com esse ajuste, o Brasil avançou do terceiro para o segundo lugar no ranking mundial de juros reais (taxa ajustada pela inflação), alcançando 9,53% ao ano. Apenas a Turquia tem juros reais mais altos, em 14,44% ao ano.
O ranking foi elaborado pelo Portal MoneYou e pela Lev Intelligence, que estimaram uma média de 1,67% ao ano em 40 países.
A decisão de aumentar a Selic foi unânime. No comunicado, o Copom indicou que a alta da taxa deve ser interrompida na próxima reunião em julho, para avaliar os efeitos do ajuste já aplicado.
Esse ciclo começou em setembro do ano passado e, até o momento, houve sete aumentos consecutivos em nove meses. A taxa subiu de 10,50% para 15% ao ano, acumulando alta de 4,5 pontos percentuais.
O Copom justificou o aumento destacando que as expectativas de inflação ainda estão distantes da meta, a economia mostra sinais positivos e o mercado de trabalho pressiona a alta dos preços.
Economistas apontam que os juros devem permanecer nesse nível até o início de 2026.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings, afirma: “Até dezembro deste ano, a Selic deve manter-se em 15%, começando a cair apenas na primeira reunião do próximo ano”.
Ele também comenta que as atas das próximas reuniões devem indicar a proximidade do início do ciclo de queda dos juros.
A decisão surpreendeu alguns analistas, que estavam divididos entre manter os juros em 14,75% ou elevar em 0,25 ponto.
Taxas de juros mais altas tornam o Brasil mais atrativo para investidores, especialmente porque outros bancos centrais, em países desenvolvidos, têm mantido ou cortado seus juros. Isso valorizou o real.
Por outro lado, a Bolsa sofre porque a renda fixa fica mais atraente, desviando investimentos da renda variável.
Pela manhã, o dólar tinha recuado para R$ 5,476, reagindo à alta da Selic, mas na parte da tarde, fatores externos aumentaram a aversão ao risco dos investidores em relação ao Brasil.
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, explica: “A queda do dólar no início do dia refletiu a alta da Selic, mas a percepção de risco devido à guerra no Oriente Médio e tensões comerciais dos EUA fez o dólar subir novamente”.
Desde sexta-feira passada, Israel e Irã trocaram ataques. Israel iniciou o conflito para impedir que o Irã desenvolva armas nucleares, e o Irã retaliou com mísseis e drones, transformando o Oriente Médio em uma região de alto risco.
O Irã anunciou que não negociará seu programa nuclear enquanto for atacado por Israel. Ao mesmo tempo, líderes europeus tentam negociar um retorno do Irã às mesas de diálogo, com uma decisão sobre o envolvimento dos EUA prevista para as próximas duas semanas.
O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que as negociações devem avançar para o objetivo de enriquecimento zero de urânio, além de limitar programas de mísseis e o financiamento de grupos terroristas do Irã, defendendo uma solução pacífica que inclua a cooperação iraniana.
A Organização das Nações Unidas também pediu o fim do conflito. O secretário-geral, António Guterres, declarou que este conflito pode “desencadear um fogo incontrolável” e afirmou que é essencial evitá-lo.
Além disso, a política monetária dos Estados Unidos teve impacto na sessão de hoje. O Federal Reserve (Fed) manteve os juros entre 4,25% e 4,50% ao ano pela quarta vez consecutiva nesta semana, decisão unânime.
O Fed destacou que as incertezas econômicas diminuíram, mas ainda são elevadas, e reafirmou seu compromisso com a meta de inflação de 2% e o pleno emprego. “O comitê está atento aos riscos para o cumprimento de sua dupla missão”, explicou.
Desde dezembro, o Fed mantém essa faixa de juros, observando que as perspectivas econômicas seguem incertas, principalmente por causa das políticas comerciais dos EUA.
O Fed ressaltou que ainda é cedo para avaliar o impacto das tarifas na economia americana, uma vez que a política comercial está em evolução e não se sabe como consumidores e empresas reagirão.