A Arm pretende levantar até US$ 10 bilhões em uma listagem em Nova York ainda este ano
A Arm, designer de chips que conta com o SoftBank entre os acionistas, está em negociações com potenciais investidores estratégicos, entre eles a Intel, para ancorar o que será uma das maiores ofertas públicas iniciais do ano, disseram pessoas familiarizadas com o assunto.
A Arm, com sede no Reino Unido, também conversou com outras empresas sobre a participação no IPO, de acordo com as pessoas, que pediram para não serem identificadas.
As negociações estão nos estágios iniciais e podem não ir em frente antes da listagem, disseram. Também não está claro quanto seria investido na Arm, ou qual seria a estrutura. Representantes da Intel e da Arm não quiseram comentar.
A Arm pretende levantar até US$ 10 bilhões em uma listagem em Nova York ainda este ano, tendo rejeitado repetidos apelos de primeiros-ministros do Reino Unido para trazer a gigante doméstica da tecnologia de volta a Londres, onde já foi negociada. “Valuations” mais altos no setor de tecnologia e uma base de investidores mais ampla nos EUA acabaram convencendo a Arm, que deve ser listada na Nasdaq.
Momentum
Trazer um investidor-âncora pode ajudar a aumentar o interesse e o “momentum” em um IPO, especialmente em um mercado difícil para novas listagens. Se as negociações tiverem êxito, a Intel acabaria sendo incluída no prospecto do IPO da Arm antes da listagem.
Investidores-âncora que compram US$ 100 milhões a US$ 200 milhões em ações têm aparecido com frequência em IPOs relacionados a semicondutores nos últimos anos. No ano passado, a General Atlantic, que foca em empresas de crescimento, investiu cerca de US$ 100 milhões no IPO da Mobileye Global, apoiada pela Intel, enquanto a Qualcomm participou da listagem da GlobalFoundries em 2021.
Uma parte fundamental do esforço do CEO da Intel, Pat Gelsinger, para colocar a empresa novamente no topo da indústria de semicondutores é um plano para abrir suas fábricas para outras empresas, até mesmo rivais. Para ter sucesso em competir com a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. na produção terceirizada, a Intel terá de produzir chips que contenham a tecnologia amplamente utilizada da Arm.
As duas empresas já anunciaram uma parceria técnica. Os designs e o conjunto de instruções padrão da indústria da Arm são usados em diversas áreas, como nos chips de rede da Broadcom, nos processadores do iPhone e de Macs da Apple e nos onipresentes chips da Qualcomm para celulares.
Ao assumir uma posição na Arm, cuja tecnologia permitiu a competição direta pelos processadores da Intel, Gelsinger pode querer mostrar seu compromisso com a Arm e em adotar essa abertura. Ao longo de seus mais de 50 anos de história, as fábricas da Intel trabalharam quase exclusivamente com os próprios designs.
“As negociações da Intel para se tornar um potencial investidor estratégico no próximo IPO da Arm destacam o objetivo da gigante de chips de se tornar uma fundição-chave para o setor de semicondutores ‘fabless’ e trazer de volta a fabricação de ponta para os EUA”, disse Kunjan Sobhani, analista da Bloomberg Intelligence. “Isso ocorre apesar da rivalidade direta entre os chips Intel e os processadores baseados na Arm.
Segue uma parceria técnica entre a Intel e a Arm em abril que, se combinada com uma participação estratégica, poderia posicionar a Intel como fabricante de chips projetados na arquitetura Arm.”
Gelsinger lançou um plano ambicioso para reconquistar a liderança da Intel na indústria de semicondutores, por meio da construção de fábricas e rápido aperfeiçoamento de sua tecnologia de fabricação. É uma batalha difícil, já que o principal mercado para os produtos da Intel — processadores de computadores pessoais — está em desaceleração.
E a empresa está perdendo participação para a Nvidia, que alavancou sua expertise em processadores gráficos usados em videogames para se tornar líder em chips de inteligência artificial. A Nvidia, que se tornou a primeira fabricante de chips a ultrapassar o valuation de US$ 1 trilhão, havia eclipsado a capitalização de mercado da Intel pela primeira vez em 2020, e agora as duas empresas não estão nem perto.