Criptomoedas pareadas com outros ativos permitem ter exposição de forma mais barata, simples e 24 horas por dia
O dólar norte-americano é, atualmente, uma das mais conhecidas e procuradas opções de investimento do mundo, sendo considerada uma alternativa segura e confiável para obter lucros e se proteger de momentos de crise. Entretanto, as alternativas disponíveis no mercado tradicional para obter esse ativo ainda possuem falhas, passando de custos até fatores complexos a se levar em conta ao escolhê-las.
Foi pensando nisso que surgiram no mercado de criptomoedas as chamadas stablecoins. Em linhas gerais, elas são um tipo específico de criptoativo cuja principal característica é a estabilidade (“stable”), obtida a partir do pareamento em relação a outro ativo. O mais comum é que ela seja pareada ao dólar, ou seja, 1 unidade dela equivale a US$ 1.
O setor conta com algumas stablecoins já conhecidas, como o tether (USDT), a USDC e a BUSD, e nesta semana ganhou um novo integrante: o BTG Dol. Ele é a primeiro stablecoin pareada ao dólar emitida por um banco em todo o mundo, e já está disponível para compra, simbolizando mais um passo do banco na adoção da tecnologia blockchain.
Mas quais são as vantagens de se investir em stablecoins? Confira!
Vantagens das stablecoins
Henrique Teixeira, diretor global de Novos Negócios da Ripio, explica que as stablecoins são uma forma importante de evitar a volatilidade do mercado tradicional de criptomoedas, observada em ativos como o bitcoin e o ether. Mas elas podem ir além. Entre os seus usos principais, ele cita a proteção cambial e contra a inflação, já que ela confere uma exposição direta ao dólar.
“A principal vantagem de ter um investimento com esse fim é deter um ativo digital cuja volatilidade seja mais baixa e balizada pelos movimentos do mercado financeiro tradicional. Além disso, as stablecoins também possibilitam fazer em ativos digitais baseados por exemplo, em dólares que asseguram esse valor, sem desvalorização”, explica.
Já Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset, destaca que as criptomoedas pareadas a outro ativo trazem um ganho de eficiência e uma infraestrutura menos volátil em relação a outros ativos digitais. E há uma vantagem de custo também: “é importante observar que, quando se sai do ambiente cripto e volta-se para uma moeda fiduciária, como o real ou dólar, temos encargos maiores de corretagem, spread e outros custos de fricção”.
“As stablecoins são tão demandadas, pois permitem que o investidor permaneça no ambiente cripto, mais seguro e eficiente. O investidor não incorre em risco de contraparte à medida que faz a custódia dos seus próprios ativos e pode efetuar transferências 24 horas por dia, 7 dias na semana, 365 dias no ano, a um custo muito menor comparado à infraestrutura tradicional”, afirma.
Ao optar por uma stablecoin pareada ao dólar, como o BTG Dol e outros projetos mais antigos, o investidor pode adquiri-la a qualquer momento, com disponibilidade imediata, com qualquer valor de entrada e com uma cotação do dólar comercial e uma taxa de 0,5%. A compra costuma ser simples, sem exigir conhecimentos prévios ou operações complexas.
Se o investidor optasse pela compra de dólar em espécie, por exemplo, precisaria esperar a janela de negociação da casa de câmbio, no horário comercial, e teria uma cotação mais cara, a do dólar turismo. Já na compra por conta internacional, a obtenção do valor em dólar não é imediata.
Outras opões, como fundos cambiais, derivativos e contratos futuros, exigem um valor de entrada maior, possuem horários específicos para negociação e não têm disponibilidade imediata. Os derivativos e contratos ainda são mais burocráticos, e as três modalidades costumam exigir algum grau de conhecimento do seu funcionamento.
Há, ainda, a questão tributária. O dólar em espécie é tributado a partir US$ 5 mil no ano, com uma tributação partindo de 15% para ganhos até US$ 5 milhões e podendo chegar a 22,5% acima de US$ 30 milhões. Nos fundos cambiais, a tarifa varia entre 22,5% a 15% dependendo do valor, mas há a aplicação do chamado “imposto come-cotas” semestralmente. Já os derivativos e contratos possuem uma tributação fixa de 15%, independente do ganho.
Já quando há o uso de stablecoins, a tributação ocorre em ganhos a partir de US$ 35 mil, mas esse limite vale mensalmente, e não anualmente como no dólar em espécie. A partir desse valor, há a tributação variando entre 15% a 22,5%. É um regime semelhante à de contas internacionais, mas nesse caso é preciso segregar ganhos no Brasil e no exterior, com taxações diferentes, o que dificulta o investimento.
Cuidados ao investir
Apesar das diversas vantagens, também é preciso ter alguns cuidados ao escolher investir em uma stablecoin pareada ao dólar. Ludolf ressalta que “existem grandes diferenças na liquidez, nas tecnologias que as constituem e, sobretudo, na qualidade do lastro. Isso é, dos ativos reais que fazem parte das garantias das stablecoins”.
“Sabemos que muitas vezes diversas moedas estáveis tiveram problemas de perda da paridade. Por isso, é importante focar mais nos projetos maiores, que tenham transparência com o lastro e que sejam de boa qualidade”, recomenda o gestor. A USDC, por exemplo, chegou a perder a sua paridade neste ano, e a USDT é vista com desconfiança por alguns investidores devido à falta de transparência em suas reservas.
Há, também, uma falta de regulamentação sobre a opção de investimento, o que resulta em uma falta de salvaguardas aos investidores. Nesse sentido, projetos que tenham o respaldo de instituições tradicionais e respeitadas podem ajudar a tornar o ativo mais seguro e acelerar sua adoção, como sinaliza o lançamento do BTG Dol.
Henrique Teixeira, da Ripio, observa ainda que é preciso “fazer uma análise de mercado e compreender os procedimentos que cada empresa utiliza e para garantir a paridade com um ativo”. “É importante estar sempre atento aos detalhes que cercam o pareamento de uma stablecoin antes de se realizar um investimento”.