LUCAS LACERDA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O Comando Vermelho tem aumentado sua presença em mais regiões do Rio de Janeiro, alcançando cerca de 1,79 milhão de moradores em 2024, segundo estudo recente.
Enquanto isso, as milícias estão perdendo espaço. Elas controlam 1,6 milhão de pessoas, mas dominam uma área maior, equivalente a 74% das zonas sob influência de grupos armados na cidade.
No total, 4 milhões de pessoas, cerca de um terço da população da cidade e da região metropolitana, vivem em áreas controladas ou influenciadas por esses grupos. Eles atuam em uma área de 407 km², representando cerca de 18% da região.
Os dados são da última edição do Mapa Histórico dos Grupos Armados, divulgada pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pelo Instituto Fogo Cruzado. A pesquisa baseia-se em informações do Disque-Denúncia.
Entre 2016 e 2020, houve uma expansão rápida dos grupos armados, especialmente das milícias, que ocuparam áreas que antes não eram dominadas. Atualmente, com menos espaço livre, os conflitos entre facções rivais aumentaram, tornando a conquista de territórios mais violenta, segundo Terine Husek Coelho, gerente de pesquisa do Instituto Fogo Cruzado.
Os autores do estudo destacam que, desde 2019, houve uma redução no número de pessoas vivendo sob o domínio do crime, algo sem precedentes.
Daniel Hirata, coordenador do Geni/UFF, explica que essa queda está relacionada à estrutura das milícias, à situação econômica e política do estado.
Durante o ciclo de grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o crescimento imobiliário e de infraestrutura na zona oeste foi explorado pelos grupos armados. O modelo de negócio das milícias envolve atividades como construção, compra e venda de imóveis, além de serviços de transporte, internet e gás.
Hirata destaca também a crise econômica da última década, o fim das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e os confrontos entre o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) pela rota da cocaína.
Esses fatores ajudaram a expandir o controle das milícias, que mais tarde sofreram operações repressivas e enfrentaram disputas internas.
O estudo, realizado desde 2018, distingue duas situações: as áreas sob controle dos grupos armados, onde há exploração econômica, regras internas e uso da força; e as áreas sob influência, onde a presença dos grupos é mais limitada.
Segundo Terine, é importante diferenciar essas áreas para criar estratégias eficazes e de longo prazo, pois não existe uma solução rápida para o problema.
Apesar das milícias perderem território, ainda possuem a maior área entre os grupos criminosos no Rio. O Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro (TCP) estão expandindo suas áreas, especialmente na zona oeste da cidade e na Baixada Fluminense.
Essa região tem sido palco de confrontos intensos entre o Comando Vermelho e as milícias nos últimos anos.
Na zona oeste do Rio, as milícias mantêm o controle de 90% do território e influenciam 80% da população. Na cidade, as áreas dominadas são: 157 km² pelas milícias, 34 km² pelo Comando Vermelho, 15 km² pelo TCP e 5 km² pelo Amigos dos Amigos (ADA).
Desde 2023, as disputas do Comando Vermelho para tomar áreas das milícias têm aumentado. Entre os motivos estão a morte de Rodrigo Dias, o Pokémon, líder dos milicianos em Rio das Pedras, e os planos de Edgar Alves, o Doca, líder do Comando Vermelho, que percebeu o enfraquecimento das milícias.

